Na plenária sobre atualizações em SDRA, no ATS 2023, Professor Michael A. Matthay nos apresentou uma nova proposta para os critérios de Berlim, criados de 2012.
A SDRA foi descrita pela primeira vez em 1967, pelo Dr. Asbaugh, descrevendo um quadro de hipoxemia, dispneia e infiltrado bilateral na radiografia. Nos últimos 58 anos, muito se avançou na compreensão dessa síndrome tão heterogênea, cuja mortalidade, ainda hoje, é elevada.
Em 2012, foram criados os critérios de Berlim para definição da síndrome. A partir desses critérios pôde-se classificar melhor os pacientes e identificá-los para estudos randomizados. Desde entao, 3 estudos principais utilizaram seus princípios e obtiveram impacto na mortalidade, modificando a prática clínica: Estudo ARMA sobre volume corrente, estudo FACTT sobre terapia de fluidos e PROSEVA sobre prona.
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Nos últimos 11 anos, houve um aumento na pesquisa sobre Síndrome de Desconforto Respiratório Agudo e, sem dúvida, a pandemia acelerou o desenvolvimento de estudos nessa área. Por exemplo, melhor definição dos conceitos de fenótipo hiperinflamatório e hipoinflamatório e a implicação em relação a resposta às terapias aplicadas; o uso de cateter nasal de alto fluxo (CNAF) como terapia de suporte ventilatório não invasivo; o uso do ultrassom à beira-leito, foram apenas alguns dos avanços que ocorreram.
Dessa forma, surge a necessidade de uma atualização dos critérios. Para tal, foi criado um comitê, o qual durante 1 ano trabalhou para a formulação dos novos preceitos.
Recomendações
- Para pacientes em ventilação mecânica invasiva seguir os critérios tradicionais de Berlim, mas com a possibilidade de classificação de gravidade pela s/f ratio (razão SatO2/FiO2);
- Para pacientes não intubados, devemos ampliar a avaliação para paciente em VNI e CNAF com pelo menos 30 L/min e utilizar tanto gasometria quanto sato2 para definir a gravidade;
- Em locais com recursos limitados pode-se utilizar o ultrassom como substituto para rx desde que seja realizado por profissional treinado. Pode-se utilizar a razão s/f.
Benefícios
Estimular a inclusão de pacientes em fase mais precoce, permitindo intervenções que possam mudar o curso da doença antes da evolução para uma fase mais avançada.
Limitações
- O uso de sato2 pode sofrer interferência da hemodinâmica e conduzir decisões baseada em dado não fidedigno;
- CNAF ainda está pouco disponível em locais com recursos limitados;
- Avaliação retrospectiva dos estudos já realizados pode sofrer influência com a mudança dos critérios.
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Mensagem prática:
- SDRA é uma doença heterogênea cujo conhecimento sobre sua patologia avançou muito nos últimos anos e novas terapias surgiram;
- Uma atualização incluindo CNAF e o uso da razão S/F para definição de gravidade permite maior acessibilidade e reconhecimento precoce dos pacientes;
- Mais estudos são necessários para compreender o impacto dessas modificações na prática e nos estudo clínico.
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