A abordagem terapêutica de escolha para o câncer de pulmão conhecido como não pequenas-células-localizado (CPNPC) permanece sendo a lobectomia pulmonar. Recentemente, opções cirúrgicas minimamente invasivas, como a toracoscópica assistida por vídeo (VATS, videoassisted thoracoscopic surgery) e a robótica (RATS, robotic assisted thoracic surgery) têm sido crescentemente adotadas, com expectativa de melhores resultados perioperatórios.
Leia também: IA na detecção de câncer de pulmão: como é possível implementar?
Em contrapartida, a longa curva de aprendizado e elevado custo inerente ao uso dessas tecnologias suscita questionamento sobre o benefício de sua aplicação em larga escala, principalmente no que concerne desfechos cirúrgicos, como tempo de permanência hospitalar e complicações, além de resultados oncológicos.

Novo estudo
Visando elucidar esse questionamento, um estudo multicêntrico avaliou 21 instituições norte-americanas com objetivo de comparar resultados perioperatórios de lobectomias realizadas com técnicas minimamente invasivas (VATS e RATS) e com abordagem aberta (LA).
Métodos
Foram incluídos pacientes com CPNPC em estágio clínico IA – IIIA que não foram submetidos à quimioterapia neoadjuvante, totalizando 5.721 lobectomias eletivas, sendo 2.391 (41,8%) RATS, 1156 (20,4%) LA e 2174 (38%) VATS. As abordagens foram pareadas por meio de escore de propensão baseado em sexo, idade, raça, tabagismo, FEV1, escore de desempenho Zubrod, ASA, tamanho do tumor e estadiamento clínico T e N.
Resultados
O tempo cirúrgico da RATS foi estatisticamente menor, quando comparado às outras abordagens. Também se observou que o tempo para realização de VATS foi em média 20 minutos mais longo quando comparado à LA. A taxa de conversão foi menor na abordagem robótica quando comparada à laparoscópica. Quando analisada a perda sanguínea média e necessidade de hemotransfusão intraoperatória, as abordagens minimamente invasivas (AMI) apresentaram valores reduzidos.
Em relação ao pós-operatório, VATS e RATS não apresentaram diferença em relação à taxa de complicação, porém ambas tiveram incidência de intercorrências menor comparativamente à abordagem aberta. Complicações pulmonares (escape aéreo prolongado e pneumonia) foram mais frequentes em todos os subgrupos. Pacientes submetidos à RATS demandaram menos hemotransfusões após cirurgia, além de tempo médio de internação reduzido. Todos os subgrupos apresentaram mortalidade intra-hospitalar equivalente, sendo a mortalidade após 30 dias inferior à 1% em todos os grupos avaliados.
Conclusão
Em resumo, o estudo ratificou o princípio de que as AMI são associadas a melhores resultados perioperatórios quando comparadas à LA. Adicionalmente, observou-se que a cirurgia robótica possibilitou benefícios adicionais à laparoscopia, como redução do tempo cirúrgico e da taxa de conversão.
Saiba mais: Tratamento oral para o CPNPC é reconhecido pela FDA como terapia inovadora
Mensagem prática
Os resultados iniciais do uso da tecnologia robótica são promissores, principalmente no que concerne aos resultados perioperatório e pós-operatório precoce. Todavia, considerando a realidade nacional, ainda há um caminho a ser percorrido para que possamos reproduzir resultados semelhantes localmente. Amplificação do acesso a plataformas robóticas, formação de cirurgiões com expertise na execução de RATS e equipe interdisciplinar ambientada às particularidades da tecnologia são barreiras a serem transpostas.
Autoria

Nathália Ribeiro Pinho de Sousa
Residente em Cirurgia Geral pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal da Fronteira Sul ⦁ Especialização Multiprofissional em Atenção Básica em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina ⦁ Médica pela Universidade Federal do Ceará ⦁ Exerceu cargo de Presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular ⦁ Foi editora Júnior do Blog do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery ⦁ Desempenhou função de vice-presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular e de presidente da Liga de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal do Ceará ⦁ Realizou estágio em Cirurgia Cardíaca na Cleveland Clinic (EUA), Mount Sinai Hospital (EUA), The Heart Hospital at Baylor Plano (EUA), Hôpital Européen Georges Pompidou (França), Herzzentrum Leipzig (Alemanha), Papworth Hospital (Inglaterra), Harefield Hospital (Inglaterra), St. Thomas Hospital (Inglaterra), Manchester Royal Infirmary (Inglaterra), Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (Brasil) e Hospital São Raimundo (Brasil) ⦁ Realizou estágio de pesquisa no William Harvey Heart Centre (Inglaterra) ⦁ Foi bolsista de Graduação Sanduíche pelo Programa Ciência sem Fronteiras na University of Roehampton, Londres ⦁ Foi bolsista de iniciação científica CNPq, UFC e da FUNCAP do Laboratório de Fisiologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA).
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.