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Reumatologia24 outubro 2024

Survey informa a elaboração de estratégias nacionais de cardiorreumatologia

Por Gustavo Balbi

Recentemente, o estudo das doenças cardiovasculares nos pacientes com doenças reumáticas tem ganhado uma grande importância. Sabemos que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo todo, e os pacientes com doenças reumáticas inflamatórias/imunomediadas (DRIM) apresentam um risco aumentado para a ocorrência desses eventos. Os pacientes com DRIM apresentam aterosclerose acelerada tanto pela doença em si, quanto pelo tratamento com corticoterapia e AINEs. Além disso, diversas outras manifestações podem existir, como miocardite, pericardite, doenças infiltrativas, entre outras.

Nesse sentido, novos esforços estão surgindo no mundo todo para criar grupos de estudos e esforços nacionais para endereçar essa questão. Mohammed et al. conduziram uma survey com reumatologistas do Reino Unido, de modo a fornecer subsídios para um programa britânico sobre o tema (MRC-BHF UK CARDIO-IMID).

Métodos e resultados

Foi realizada uma survey com perguntas relacionadas à utilização dos conhecimentos a respeito da cardiorreumatologia no cotidiano de atendimento de reumatologistas britânicos. Oitenta e cinco reumatologistas responderam ao questionário enviado. Desses, 72% eram consultants (atendiam como reumatologistas fora de cenários de ensino), 62% tinham pelo menos 10 anos de experiência e tinham expertise em artropatias inflamatórias, doenças difusas do tecido conjuntivo e reumatologia geral (40% tinha experiência nas 3 áreas).

Com relação ao risco cardiovascular, 60% dos médicos entrevistados avaliavam o risco cardiovascular dos seus pacientes anualmente; no entanto, 28% raramente o faziam. Para essa avaliação, 53% não utilizavam escores desenvolvidos para esse fim; o restante respondeu que utilizava o QRISK3 (nenhum outro escore foi utilizado). 82% dos participantes discutiam risco cardiovascular com o seu paciente e 95% encaminhavam os pacientes para implementação de estratégias redutoras do risco cardiovascular na atenção primária; no entanto, 46% dos reumatologistas não se sentiam confiantes para interpretar e entender o risco cardiovascular, bem como a avaliação dos níveis e estratégias redutoras de lipídios.

No que diz respeito à imagem cardiovascular, os reumatologistas raramente solicitaram exames de imagem além do ecocardiograma, sendo que 53% respondeu que nunca pedem tais exames de imagem. Depois do ecocardiograma, os reumatologistas consideraram a RM cardíaca como o exame mais disponível (70% – provavelmente para investigação de miocardite), seguido da angioTC de coronárias (55%), PET-CT de coração (38%) e SPECT de coração. Os autores encontraram que 90% dos reumatologistas que responderam ao questionário não estavam seguros de qual seria o melhor exame para solicitar em cada situação, sendo que 80% dos clínicos relataram não ter recebido treinamento específico sobre avaliação do risco cardiovascular e sobre exames de imagem em cardiologia. Apenas 3% relataram muita familiaridade com os guidelines internacionais sobre o assunto.

Por sim, 88% dos que responderam relataram não ter nenhum tipo de discussões multidisciplinares com cardiologistas.

Comentário

Esse estudo, mesmo sendo simples, traz importantes questões relacionadas ao cuidado dos pacientes com DRIM. O tema “cardiorreumatologia” está cada vez mais em alta, mas, como demonstrado, muitos reumatologistas ainda não possuem familiaridade com a avaliação do risco cardiovascular, avaliação de estudos de imagem cardiovascular e estratégias de mitigação de eventos.

Por outro lado, também é de se imaginar também que os cardiologistas, de modo geral, encontram-se muito afastados dos conceitos de doenças autoimunes e necessitam de uma maior interação com os reumatologistas, de modo a melhorar a assistência a esses pacientes.

Sendo assim, o desenvolvimento estratégias de educação continuada, como está sendo proposto nacionalmente no Reino Unido, na qual cada especialidade contribuiria com o acréscimo de conhecimentos específicos para a outra, resultaria em um melhor cuidado dos pacientes com DRIM e deve ser um alvo a ser atingido nos próximos anos.

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Referências bibliográficas

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