Os avanços no monitoramento da autorregulação cerebral
O desenvolvimento de tecnologias para o monitoramento da autorregulação cerebral representa um avanço na qualidade de vida dos pacientes.
Em 2006, o professor e físico Sérgio Mascarenhas, falecido em 2021, começou a apresentar fortes crises de cefaléia, dificuldades de locomoção e incontinência urinária, sendo diagnosticado com Hidrocefalia de Pressão Normal (HPN).
Indignado com os métodos invasivos da medicina para o tratamento – o seu crânio deveria ser perfurado para medir a pressão intracraniana (PIC) – decidiu pesquisar novas formas de realizar a medição. O professor Mascarenhas passou a investigar as tecnologias para monitoramento da pressão intracraniana, surpreendendo-se ao constatar que os únicos métodos validados eram invasivos.
Nos experimentos in vivo, realizados com alteração do grau de elevação da cabeça de animais, foi demonstrado que tais alterações levam a variações na pressão intracraniana e que o crânio é expansível, além de mostrar que essa deformação pode ser detectada com um sensor colocado no couro cabeludo.
Saiba mais: Acessando o cérebro com o ultrassom a beira leito
Como resultado dos novos achados, a nova tecnologia não invasiva para o monitoramento da pressão intracraniana em tempo real foi validada tecnicamente, apresentando uma onda resultante muito semelhante à obtida com o monitoramento autorregulação cerebral invasivo.
O projeto revolucionou o tratamento de hidrocefalia, tumores cerebrais e traumatismo craniano, além de melhorar substancialmente a qualidade de vida dos pacientes sem expô-los a complicações decorrentes de procedimentos invasivos. O estudo, inclusive, foi realizado em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), na faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto.
“Com base nessa descoberta importante, é que foi possível fazer a monitorização de modo não invasivo da dinâmica da pressão e da complacência intracraniana. Um sensor posicionado externamente na cabeça do paciente capta dados que são enviados em tempo real para a plataforma em nuvem da brain4care, onde algoritmos os consolidam em um relatório, visualizado pelo médico, sua equipe ou o cientista em um dispositivo – um tablet ou smartphone, por exemplo – conectado à internet. Antes dessa tecnologia, obter dados sobre as variações de pressão e complacência intracraniana só era possível por meio de procedimentos invasivos, cujo padrão ouro constitui inserir cirurgicamente um cateter na caixa craniana do paciente. Além de não invasiva, a monitorização permite, em muitos casos, diagnosticar problemas de saúde neurológica antes que sintomas apareçam, permitindo aos médicos atuar de forma preventiva nos cuidados com seu paciente, evitando sequelas importantes”, explicou o diretor científico da brain4care, Gustavo Frigieri, em entrevista ao Portal de Notícias PEBMED.
Segundo Frigieri, a influência de quadros e doenças sobre a saúde neurológica, assim como a viabilidade de se realizar o acompanhamento diagnóstico e cirúrgico, utilizando as informações fornecidas pelo monitoramento da brain4care, será a principal linha de investigações científicas da empresa para os próximos anos.
Os avanços no monitoramento da autorregulação cerebralNovos estudos sobre o monitoramento da autorregulação cerebral
Outros estudos vieram nos últimos anos com o objetivo de avançar ainda mais no campo do monitoramento da autorregulação cerebral. Em um deles: “Uso de um método não invasivo no monitoramento da pressão intracraniana em unidade de terapia intensiva para melhorar a neuroproteção em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca após circulação extracorpórea”, publicado em 2021, apontou que as alternativas não invasivas podem proporcionar uma identificação precoce de alterações intracranianas danosas, permitindo o uso de medidas de neuroproteção durante o pós-operatório na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para auxiliar os médicos na na tomada de decisão relacionada aos protocolos de neuroproteção.
Já no estudo intitulado “Morfologia do pulso de pressão intracraniana: o elo perdido?“, publicado em 2022, os pesquisadores indicaram que a chave para a individualização do paciente em relação ao monitoramento da pressão intracraniana pode ser encontrada na morfologia do pulso da PIC.
A hidrocefalia é considerada um problema de saúde social devido ao impacto na vida do paciente e ao custo socioeconômico que acarreta. A incidência de hidrocefalia congênita é de 4,6 a 5,9 entre 100 mil indivíduos. As despesas anuais para o tratamento da enfermidade chegam a US$ 1 bilhão somente nos Estados Unidos.
Este artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.