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Saúde27 dezembro 2018

Qual é a diferença entre medida relativa e absoluta em estudos médicos?

Em medicina baseada em evidências, medidas absolutas são muito mais importantes que as relativas e saberemos a seguir os motivos e quais as diferenças. Confira:

Por Lucas Tramujas

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Em medicina baseada em evidências, quando nos referimos às intervenções e efeitos de um tratamento nos estudos médicos, as medidas absolutas são muito mais importantes que as medidas relativas e veremos os motivos abaixo e quais suas diferenças conceituais.

Evidências sugerem que profissionais de saúde ainda apresentam certas dificuldades em interpretar estes conceitos estatísticos incorporados à medicina baseada em evidências, o que pode gerar confusão entre médicos e pacientes a respeito da eficácia, efetividade e dos possíveis efeitos adversos de um tratamento.

Leia mais: Pesquisa científica: vamos publicar?

As recomendações atuais enfatizam que, sempre que possível, os estudos científicos devem reportar tanto risco relativos quanto riscos absolutos nos resultados de uma pesquisa. Contudo, um estudo publicado no British Medical Journal em 2012 demonstrou que existe uma predileção de pesquisadores por reportar apenas as medidas relativas em muitos estudos de desfecho ou mesmo em estudos epidemiológicos. Este estudo analisou 344 artigos e em 75% deles apenas medidas relativas foram mencionadas.

Quais as medidas relativas, quais as formas de calculá-las?

O risco relativo é uma medida utilizada para verificar a probabilidade dos indivíduos expostos de desenvolverem a doença em relação aos não expostos. Também chamada de razão de riscos, pode ser calculado através da razão entre as incidências dos desfechos nos indivíduos expostos e não expostos. A fórmula é assim representada: RR = IE /IĒ.

A significância estatística desta medida está associada à descrição dos intervalos de confiança (IC), no qual o intervalo de confiança de 95% é o mais frequentemente adotado. Em um estudo hipotético que avaliou o efeito do uso de sinvastatina para prevenção primária de eventos cardiovasculares em indivíduos acima de 60 anos, verificou-se o seguinte resultado; RR = (0,77; IC 95 %; 0,63 – 0,94).

Isso significa dizer que o uso de sinvastatina reduziu o risco de eventos cardiovasculares em 23 %, entretanto, só podemos inferir que existe significância estatística, pos os resultados do intervalo de confiança não estão interpolados pelo limite superior e inferior do intervalo, ou seja, não cruzam o valor 1.

Caso na mesma situação, os resultados fossem apresentados da seguinte forma: RR = (0,77; IC 95 %; 0,5 – 11,9), poderíamos inferir que não há significância estatística e o efeito de estatinas sobre a redução de eventos cardiovasculares é nulo, pois independente do valor do RR, o intervalo de confiança cruza o valor 1. Porém, se o risco relativo fosse apresentado da seguinte da forma RR = (2,00; IC 95 %; 1,4 – 2,1), afirmaríamos que o uso da medicação teve efeitos deletérios, aumentando o risco de eventos cardiovasculares.

Assim, sobre os riscos relativos, podemos concluir que quando o risco relativo é igual a 1, significa que o risco de o evento ocorrer é idêntico entre expostos e não expostos. Um risco relativo menor que 1, indica um fator de proteção ou um risco menor de desenvolvimento do evento no grupo exposto. Um risco maior que 1, indica que há um efeito deletério do tratamento ou um risco aumentado de desenvolver determinado evento.

Em um ensaio clínico hipotético, o grupo droga apresentou mortalidade de 5%, enquanto o grupo placebo apresentou mortalidade de 10%. O RR (5/10) foi de 0,50. A partir deste risco relativo podemos calcular a redução relativa do risco. O calculo da redução relativa do risco pode ser feito pela seguinte fórmula: RRR = 1 – RR. Ou seja, 1 – 0,50 = 0,50. A redução do risco relativo seria de 50%. Essa seria a mensuração relativa do benefício do tratamento.

E quanto às medidas absolutas?

As medidas absolutas envolvem basicamente o risco absoluto e a redução absoluta do risco. O risco absoluto é a probabilidade de um evento ocorrer em uma população sob estudo e pode ser traduzido como o risco basal de um indivíduo desenvolver um desfecho.

É sinônimo também de incidência de eventos, pode ser calculado pela própria taxa de incidência, sendo assim descrito: I (incidência) = número de casos novos durante um período de tempo/número de pessoas no grupo. Já a redução absoluta do risco seria basicamente a simples subtração do risco no grupo controle pelo risco do grupo tratamento.

Fazendo uso do mesmo exemplo utilizado para as medidas relativas, teríamos RAR = 10% – 3%, que nos daria uma redução absoluta de 7 %.

Quais as diferenças e as implicações práticas?

  1. O grande valor das medidas relativas está no seu efeito intrínseco. A redução relativa do risco não varia com o risco basal do paciente. De posse do efeito intrínseco de um tratamento (redução relativa do risco), podemos aplicá-lo sobre o risco de base daquele paciente e assim saberíamos a redução absoluta do risco naquele paciente em específico. Juntando o pensamento clínico ao estatístico, se fizéssemos a suposição que em um determinado perfil o uso de estatinas promoveria uma redução relativa de risco de 20% e o risco basal de eventos cardiovasculares em 10 anos do meu paciente através do escore de Framingham fosse 30%, teríamos 20% sobre 30%, que nos daria uma redução absoluta do risco de 6, 2 % com o tratamento para aquele paciente.
  2. Medidas relativas podem sugerir um efeito muito maior do que realmente são na realidade, levando aos médicos a superestimarem os benefícios de um tratamento e subestimarem os riscos.
  3. Os números referentes às medidas relativas são muito mais atrativos que os números referentes às reduções absolutas – 50 % de RRR é muito mais atrativo que uma RAR de 7%, por isso são mais explorados pela indústria farmacêutica.
  4. Medidas absolutas variam de acordo com o risco basal do paciente, por isso refletem com “acurácia” o verdadeiro efeito do tratamento e devem ser as medidas levadas em consideração quando se busca a verdadeira magnitude de um tratamento, com o posterior calculo do NNT.

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Referências:

  • King BN, Harper Sam, Young ME. Use of relative and absolute effect measures in reporting health inequalities: structured review. BMJ 2012; 345:e5774.
  • Andrade C. Understanding relative risk, odds ratio, and related terms: As simple as it can get. J clin psychiatry 2015; 76(7):e857-e861.
  • Forrow L, Taylor WC, Arnold RM. Absolutely relative: how research results are summarized can affect treatment decision. Am J Med 1992; 117: 916-21.
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