No dia 01 de dezembro o mundo celebra o Dia Mundial da Luta contra a AIDS, uma oportunidade para apoiar as pessoas envolvidas na luta contra o HIV e melhorar a compreensão do vírus para a população em geral.
A melhor forma de combater a AIDS ainda é a prevenção, através da prática de sexo seguro com preservativos e mantendo padrões de qualidade assistenciais em relação à assistência hospitalar e nos bancos de sangue, o que impactou diretamente na redução (quase abolição da transmissão por transfusões).
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Dentre as medidas de prevenção, temos a profilaxia pós-exposição (PEP). A PEP é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco à infecção pelo HIV, exigindo também a profilaxia específica para o vírus da hepatite B e para outras infecções sexualmente transmissíveis (IST). Consiste no uso de medicamentos ou imunobiológicos para reduzir o risco de adquirir essas infecções. Deve ser utilizada após qualquer situação em que exista risco de contágio, tais como:
- Violência sexual;
- Relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento);
- Acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).
Discutindo com foco na profilaxia para o risco de infecção pelo HIV, a PEP tem por base o uso de medicamentos antirretrovirais com o objetivo de reduzir o risco de infecção em situações de exposição ao vírus como as citadas acima.
Trata-se de uma urgência médica e deve ser iniciada o mais rápido possível (Preferencialmente nas primeiras duas horas após a exposição de risco e no máximo em até 72 horas do evento). A profilaxia deve ser realizada por 28 dias e a pessoa tem que ser acompanhada pela equipe de saúde, inclusive após esse período realizando os exames necessários. Atualmente a PEP é oferecida gratuitamente pelo SUS e é um direito de todos. Discutiremos abaixo com mais detalhes sobre o processo.
Profilaxia pós-exposição ao HIV
O primeiro passo é buscar atendimento inicial em uma unidade de saúde pública mais próxima após a exposição à situação de risco para o HIV, é necessário que o profissional avalie como, quando e com quem ocorreu a exposição. No segundo passo, didaticamente, quatro perguntas direcionam de forma objetiva o atendimento para decisão da indicação ou não da PEP:
- O tipo de material biológico é de risco para transmissão do HIV?
- O tipo de exposição é de risco para transmissão do HIV?
- O tempo transcorrido entre a exposição e o atendimento é menor que 72 horas?
- A pessoa exposta é não reagente para o HIV no momento do atendimento?
Se a resposta for sim para todas as perguntas, a PEP para HIV é indicada e deve ser iniciada o mais precocemente possível. Abaixo estão descritos os principais pontos de análise em relação à tomada de decisões sobre a indicação de PEP.
Quadro 1: Tipo de material biológico.

Quadro 2: Tipo de exposição.

Fluxograma 1: Fluxo de atendimento ao paciente pós-exposição.

A escolha do esquema antirretroviral
O terceiro passo após a definição da indicação da PEP é a escolha do esquema antirretrovirais a serem iniciados. Diversos esquemas são possíveis levando em consideração aspectos individuais de cada paciente, o que é definido de forma cuidadosa na avaliação médica. Aqui segue o esquema preferencial de escolha para homens e mulheres, salvo a presença de situações especiais que fogem do foco deste artigo.
- 1 comprimido coformulado de tenofovir/lamivudina (TDF/3TC) 300 mg/300 mg
- 1 comprimido de dolutegravir (DTG) 50 mg ao dia.
O esquema deve durar 28 dias, levando sempre em consideração a vontade e cooperação do paciente. É direito do mesmo, por exemplo, recusar-se a receber o esquema de tratamento. O mesmo deve ser informado claramente da importância do tratamento, dos riscos possíveis em não aderir ao tratamento bem como das complicações possíveis decorrentes do uso do esquema medicamentoso.
O seguimento
O quarto e último passo consiste no seguimento clínico conjunto. Após receber o esquema de PEP e iniciar o tratamento, é de fundamental importância o acompanhamento regular com um infectologista assistente. O infectologista acompanhará possíveis complicações decorrentes do uso do esquema, como disfunções gastrointestinais, renal e hepática, bem como continuar o seguimento de investigação com a coleta de sorologias seriadas ao longo dos meses subsequentes, conforme a orientação clínica.
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Conclusão
Acredito que o passo mais importante de todos seja o primeiro, o de reconhecer uma situação de exposição de risco e buscar a ajuda profissional. O uso da PEP tem excelentes resultados, com eficácia comprovada e pode ajudar de forma importante a reduzir a transmissão do HIV para pessoas expostas de forma acidental. Em caso de dúvidas, não hesite em buscar ajuda. Procure o centro de saúde mais próximo de você e ajude no combate contra a AIDS. Combater a AIDS é um compromisso de todos nós.
Referências bibliográficas:
- Ministério da Sáude (BR). PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV). Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde. Disponível em:
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- Ministério da Saúde (BR). Conitec. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP) à Infecção
pelo HIV, IST e Hepatites Virais. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. 2021. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2021/20210826_Relatorio_603_PCDT_PEP_ATV.pdf - Brasil. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da Enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 jun. 1986. Acesso em 12 jan. 2020.
Autoria

Hiago Bastos
Graduação em Medicina pela Universidade Ceuma (2016), como bolsista integral do PROUNI <span style="font-weight: 400">• </span>Especialista em Terapia Intensiva no Programa de Especialização em Medicina Intensiva (PEMI/AMIB 2020) no Hospital São Domingos <span style="font-weight: 400">• </span>Fellowship in Intensive Care at the Erasme Hospital (Bruxelles, Belgium) <span style="font-weight: 400">• </span>Especialista em ECMO pela ELSO <span style="font-weight: 400">• </span>Médico plantonista na UTI II do Hospital Municipal Djalma Marques desde 2016, na UTI do Hospital São Domingos desde 2018 e Coordenador da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes do Hospital Municipal Djalma Marques desde 2017 <span style="font-weight: 400">• </span>Fundador e ex-presidente da Liga Acadêmica de Medicina de Urgência e Emergências do Maranhão (LAMURGEM-MA) <span style="font-weight: 400">• </span>Experiência na área de Emergências e Terapia intensiva.
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