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Cardiologia26 junho 2021

Novidades no tratamento do diabetes – Atualizações do Standards of Medical Care in Diabetes da ADA

Anualmente a American Diabetes Association (ADA) lança seu Standards of Medical Care in Diabetes, documento que influencia condutas em todo o mundo. Desde 2018, o texto tem sido atualizado semp…

Anualmente a American Diabetes Association (ADA) lança seu Standards of Medical Care in Diabetes, documento que influencia condutas em todo o mundo. Desde 2018, o texto tem sido atualizado sempre que surgem novas evidências relevantes, independente do lançamento de uma nova versão. Isso ocorreu neste mês, graças a novos dados de estudos sobre doença cardiovascular e renal no diabetes tipo 2 e sobre medidas para atrasar o início do diabetes tipo 1.

Na seção “Cardiovascular disease and risk management”, os destaques ficaram com os inibidores do SGLT2. Dados sobre a Ertugliflozina (VERTIS CV), Sotagliflozina (SCORED em renais crônicos e SOLOIST-WHF em IC) e Empagliflozina (EMPEROR – Reduced em pacientes com ICFEr) foram incluídos ao documento publicado no início de 2021.

No estudo VERTIS CV, envolvendo 8.246 diabéticos tipo 2 com doença aterosclerótica, a ertugliflozina não demonstrou redução do 3P-MACE (Morte CV, IAM e AVC não fatais), nem redução dos desfechos renais (previamente observados nos estudos dos outros representantes da classe). A redução de 30% nas hospitalizações por IC não foram suficientes para apagar a má impressão, levantando o debate sobre o possível efeito de classe dos iSGLT2.

A Sotagliflozina, um inibidor duplo de SGLT1 e 2, levando a maior eliminação de glicose por via intestinal e renal, foi testado em 10.584 diabéticos com doença renal crônica no estudo SCORED. O desfecho primário de morte CV, hospitalização e visitas a urgência por IC foi reduzido em 26%. Os desfechos secundários de IC também foram reduzidos, mas não a mortalidade CV, nem os desfechos renais. O programa foi interrompido precocemente por falta de verbas, levando a alteração nos desfechos pré-especificados, o que acaba comprometendo em parte a confiabilidade dos resultados. Os efeitos adversos foram similares aos observados com os outros iSGLT2, porém com maior incidência de diarreia, provavelmente por conta da inibição do SGLT1 intestinal.

O estudo EMPEROR-Reduced avaliou a Empagliflozina 10 mg em 3730 portadores de ICFEr sintomáticos, destes 49,8% tinham diabetes. Foi observada redução no desfecho composto de Morte CV ou hospitalização por IC (HR 0.75 [95% CI 0.65–0.86]; P < 0.001) e nas hospitalizações por IC isoladamente (HR 0.70 [95% CI 0.58–0.85]; P < 0.001). O achado foi consistente independentemente do diagnóstico prévio de diabetes. Os desfechos renais (diálise, transplante ou redução na TFG) também foram reduzidos significativamente (HR 0.50 [95% CI 0.32–0.77]). Os benefícios nesta população foram considerados efeito de classe e não relacionados ao controle glicêmico.

O estudo SOLOIST-WHF também contribui com dados para o tratamento da IC nos diabéticos, entretanto o grupo estudado teria uma hospitalização recente por IC descompensada que necessitaram do uso de medicação por via venosa. O início do tratamento com Sotagliflozina seria durante a hospitalização ou em até 3 dias após a alta. Novamente por falta de verba houve encerramento precoce e mudança nos desfechos. Ao final de um follow-up médio de apenas 9 meses, houve redução no desfecho composto de morte CV e hospitalização por IC (HR 0.67 [95% CI 0.52–0.85]; P < 0.001). não houve redução de mortalidade isoladamente. Diarreia e hipoglicemia grave foram mais frequentes com sotagliflozina.

Na seção “Microvascular Complications and Foot Care”, foram adicionadas as evidências dos efeitos em portadores de doença renal crônica decorrentes dos estudos DAPA-CKD com o iSGLT2 dapagliflozina e FIDELIO-DKD com Finerenona, um antagonista do receptor de mineralocorticóide.

O estudo DAPA-CKD envolveu 4.304 pacientes com TFG= 43.1 +- 12.4 mL/min/1.73 m2, e albuminúria de 949 mg/g, sendo 67.5% diabéticos. Houve redução significativa do desfecho primário – queda de 50% na TFG ou Doença renal terminal e morte cardiovascular ou renal (HR 0.61 [95% CI, 0.51 to 0.72]; P < 0.001). Foi também observada redução de morte CV e hospitalização por IC (HR 0.71 [95% CI 0.55 to 0.92]; P = 0.009), além da redução de mortalidade por todas as causas. Novamente, os benefícios foram independentes do diagnóstico prévio de diabetes.

O estudo FIDELIO-DKD testou a finerenona, um antagonista mineralocorticoide em 5.734 pacientes com doença renal diabética avançada (TFG média 44.3 mL/min/1.73 m2 e albuminúria 852 mg/g. O desfecho primário (queda de 40% na TFG ou morte renal) foi reduzido (HR 0.82, 95% CI 0.73-0.93; P = 0.001), assim com o composto secundário (morte CV, IAM e AVC não fatais ou hospitalização por IC) (HR 0.86, 95% CI 0.75-0.99; P = 0.03). Hipercalemia levou a descontinuação em 2.3% dos pacientes, sem complicações fatais.

Por fim, na seção “Classification and Diagnosis of Diabetes” foram incluídas recomendações de opção de rastreio de auto-imunidade com a pesquisa de Anti-GAD em parentes de 1º grau de um portador de DM1, com restrição ao ambiente de pesquisa clínica. Tal recomendação segue os resultados do estudo com o Teplizumab um anticorpo anti-CD3, envolvendo pacientes com este perfil de risco. A mediana de tempo para o diagnóstico de DM1 foi de 48.4 meses no grupo teplizumab contra 24.4 meses no placebo; a doença foi diagnosticada em 43% dos usuários da medicação contra 72% do grupo placebo (HR 0.41, 95% CI 0.22 to 0.78; P=0.006).

Muitas mudanças? Sempre vindo mais dados por aí. Na última sexta (25/6) começou o ADA Scientific Sessions – principal evento anual da sociedade americana. As novidades apresentaremos aqui.

Autoria

Foto de Luciano de França Albuquerque

Luciano de França Albuquerque

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco • Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro – BA • Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia • Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa

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