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Cardiologia5 maio 2021

Como eu uso Amiodarona

A amiodarona é um anti-arrítmico da classe III da classificação de Vaughan-Willians – com efeito predominante de bloqueador de canal de potássio. Age prolongando a duração do potencial de ação.

A amiodarona é um anti-arrítmico da classe III da classificação de Vaughan-Willians – com efeito predominante de bloqueador de canal de potássio. Age prolongando a duração do potencial de ação. Mas tem também propriedades de outras classes de anti-arrítmicos, atuando nos canais de Na+ e Ca++, nos receptores beta e alfa-adrenérgico. Por esses efeitos, pode promover também vasodilatação coronariana e periférica. Por isso pode provocar hipotensão, principalmente em doses de ataque.

Por ser lipofílico, necessita de dose de ataque, e tem um tempo de meia vida médio de 58 dias (15-142 dias). Seu início de ação por via endovenosa é de 1 a 2 horas, e por via oral é após 2 a 3 dias.

INDICAÇÃO

Teria indicação como droga anti-arrítmica, tanto em casos de arritmia atrial como ventricular, tanto no cenário agudo como de manutenção. Para pacientes com Fibrilação Atrial tem uma boa eficácia para reversão de ritmo, e pode ser utilizada também para arritmias ventriculares em pacientes com cardiopatia.

Lembrando que para pacientes que chegam no pronto-socorro com uma taquicardia supraventricular estável, amiodarona NÃO é a melhor opção. Esse é um erro frequente! Para esses pacientes, o primeiro passo seria realizar manobra vagal, se sem contra-indicações. Se não resolver, o próximo passo seria utilizar adenosina!

COMO VAMOS USAR?

A dose de ataque é utilizada da seguinte forma: 1 ampola de amiodarona (ou 150mg) em 100ml de SG5%, em 10 a 30 minutos, deixando após uma dose de manutenção, com velocidade de 1mg/min nas primeiras 6 horas e 0,5mg/min nas próximas 18hs. A solução mais utilizada é SG5% 250ml com 6 ampolas de amiodarona (900mg). A velocidade de infusão seria 16,6ml/h por 6 horas, seguido de 8,3ml/h nas 18h seguintes.

Sempre utilizar frascos de vidro ou de poliolefina. Se possível, em acesso central, já que pode causar flebite no periférico.

Quando queremos realizar a dose de impregnação, precisamos dar 8 a 10g de amiodarona no total…assim, dando uma dose máxima de 1200 a 1800mg/dia, precisaríamos de 1 semana de infusão contínua para atingir essa dose. Mas não precisamos realizar toda essa dose de impregnação por via endovenosa. Podemos manter uma dose mais elevada por via oral, e após atingir a dose acumulada desejada, poderíamos reduzí-la para uma dose de manutenção mais baixa.

CUIDADOS

Ao utilizar amiodarona, em geral observamos um aumento de 50-75% do nível sérico de digoxina, um aumento de 50-100% do nível sérico de varfarina (tem que rever a dose baseada no TP!), além de aumentar os efeitos de diltiazem, sinvastatina e ciclosporina. Amiodarona é um inibidor de diversos citocromos (3A4, 2D6, 2C9, 2C19), além de inibir a glicoproteína P.

Não pode usar dose maior que sinvastatina 20mg por exemplo.

QUE EXAMES PEDIR PERIODICAMENTE?

Precisamos lembrar que amiodarona pode causar muitos efeitos colaterais…então, pode dar TRETA! Esse é o mnemônico.

T de TSH – função tireoidiana a cada 6 meses.

R de radiografia de tórax – anual – pode causar fibrose pulmonar. PFP pode ser pedido também.

E de ECG – pode prolongar o intervalo QT.

T de TGO/TGP – avaliar transaminases a cada 6 meses.

A de avaliação com oftalmologista – se sintomas. Pode dar maculopatia.

EFEITOS COLATERAIS

Estima-se que a prevalência de efeitos colaterais atinja até 15% no primeiro ano, e até 50% a longo prazo. As reações adversas mais graves são: toxicidade pulmonar (pneumonite intersticial ou fibrose pulmonar, pleurite, bronquiolite e pneumonia obliterante), exacerbação de arritmias e lesão hepática grave (raro). Outras reações comuns: tremor extra-piramidal, distúrbios do sono e pesadelos, aumento isolado de transaminases no início do tratamento (até 1,5 a 3x), microdepósitos corneanos, visão turva. Fotossensibilidade e coloração azulada da pele. Em geral, em 20% dos pacientes podemos precisar parar amiodarona por causa de efeitos colaterais.

QUANDO NÃO DEVEMOS USAR AMIODARONA?

Pacientes com hipersensibilidade a iodo ou à amiodarona, distúrbios graves da condução atrioventricular (bloqueios atrioventriculares de alto grau), bradicardia sinusal, bloqueio sinoatrial e doença do nó sinusal (se não tiver um marcapasso artificial implantado). Cuidado com pacientes com doença tireoidiana presente ou anterior e com a associação com outros medicamentos que podem prolongar o intervalo QT, pelo risco de torsades de pointes.

PODE USAR NA GESTAÇÃO?

Uso na gravidez: classe D. Usado somente em casos refratários, na dose máxima de 200mg/d, com monitorização tireoidiana frequente materna e do neonato. Excretado em doses significativas no leite materno.

Autoria

Foto de Fernando Côrtes Remisio Figuinha

Fernando Côrtes Remisio Figuinha

Médico cardiologista formado pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP. É editor e fundador do site de ensino CardioPapers. Atua como cardiologista no Hospital Dr. Miguel Soeiro – Sorocaba/SP. Secretário da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) regional Sorocaba.

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