Acessórios digitais que podem auxiliar a medicina cardiovascular
Do ponto de vista cardiovascular, o monitoramento mais frequente é da hipertensão arterial sistêmica, IC e fibrilação atrial.
A tecnologia está cada vez mais presente na saúde e, recentemente, a NEJM publicou uma revisão sobre a utilização de wereables (acessórios ou dispositivos digitais) no cuidado aos pacientes, especialmente do ponto de vista cardiovascular. Abaixo seguem os principais pontos discutidos.
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Monitoramento remoto
O objetivo do monitoramento remoto é utilizar os dados de saúde para melhorar desfechos. Esses dados englobam hábitos de vida modificáveis, como padrão de sono e atividade, dados sobre controle dos fatores de risco, como medidas de pressão arterial (PA) e glicemia, e detecção de sinais de deterioração clínica ou mudança no status de saúde antes que uma piora mais importante ocorra.
Do ponto de vista cardiovascular, o monitoramento mais frequente é da hipertensão arterial sistêmica (HAS), insuficiência cardíaca (IC) e fibrilação atrial (FA). O monitoramento a partir dos dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis, como marcapasso definitivo, desfibrilador e ressincronizador já é bem conhecido. Esses dispositivos detectam arritmias, alertam sobre a necessidade de mudança de terapia e avisam sobre necessidade de troca de bateria ou falha nos cabos.
Alguns desfibriladores detectam também alterações decorrentes de IC descompensada a partir da impedância torácica, atividade e frequência respiratória e já existem sensores que medem a pressão da artéria pulmonar, possibilitando detecção mais precoce de congestão.
Alterações de ritmo
Os wereables vêm se popularizando cada vez mais. Alguns são do tipo smartwatch e alguns são dispositivos de punho ou de pele, que captam dados de forma contínua ou ao ser ativados pelo paciente. A FA é facilmente detectada por esses dispositivos e alguns conseguem fornecer gravação de uma derivação do ritmo cardíaco por 30 segundos, a partir da medida do impulso elétrico do punho ao dedo contralateral que toca a coroa do relógio. Dispositivos mais novos já conseguem fornecer traçados com 6 derivações. Além do traçado também pode-se obter uma interpretação automática do ritmo, que deve sempre ser confirmada por médico.
A qualidade do traçado varia e isso pode interferir na acurácia diagnóstica dos algoritmos, porém a sensibilidade dos 3 dispositivos mais utilizados variou de 78 a 88% e a especificidade de 80 a 86%. Os artefatos podem prejudicar a avaliação, com até 15% dos traçados sendo não interpretáveis.
Quando é necessário monitoramento eletrocardiográfico contínuo, ECG ambulatorial é indicado e consegue avaliar a carga da FA (porcentagem do tempo em que o paciente está em FA), eficácia e segurança de antiarrítmicos e o controle de frequência cardíaca, principalmente quando o paciente não consegue perceber alterações. Esses dispositivos podem permanecer de 24 horas a 30 dias, com gravação de uma ou mais derivações, de forma contínua ou intermitente e podem ter transmissão do registro em tempo real. Além disso, alguns permitem a transmissão do traçado via celular, o que facilita a avaliação mais rápida.
Alguns acessórios conseguem ainda detectar a frequência de pulso e saturação de oxigênio por meio de um sensor óptico na região posterior do relógio, de forma intermitente ou semicontínua. Estudos realizados com pacientes sem antecedentes de FA mostraram alto valor preditivo positivo para esse diagnóstico após detenção de pulso irregular pelo dispositivo (84-98%). Diversos algoritmos vêm sendo desenvolvidos inclusive para detectar a carga de FA, porém ainda não estão aprovados para uso médico.
Medida de pressão arterial (PA)
Em relação a medida da PA, diversos dispositivos vêm sendo desenvolvidos, entre eles miniaparelhos que fazem medidas por método oscilométrico no punho e dispositivos sem cuff, que utilizam sensores elétricos, ópticos ou mecânicos. Ainda existem questões em relação a sua acurácia e os dispositivos sem cuff não estão aprovados para uso médico.
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Comentários e conclusão
Atualmente, a avaliação cardiovascular ainda é muito baseada na consulta presencial, porém muito em breve deveremos nos deparar com wearables com múltiplas capacidades, como detectar atividade, temperatura da pele, contagem de passos, detecção de sono, postura e quedas e isso tem potencial de melhorar de forma importante a avaliação dos padrões dos pacientes em associação às suas comorbidades.
Algumas questões ainda precisam ser definidas, como por exemplo quais dispositivos são apropriados para monitorização de cada paciente, como seria o pagamento do médico em relação às avaliações realizadas à distância a partir dos dispositivos, qual a quantidade de medidas necessárias, no caso das avaliações de PA por exemplo, e, principalmente, se há benefício cardiovascular do uso dessas novas tecnologias no longo prazo, com redução de óbitos ou outros desfechos.
Além disso, para implementação dessas tecnologias na prática clínica são necessários novos meios de organização e reestruturação dos serviços de saúde, com estruturação de equipes, fluxos e protocolos específicos, assim como definição de quais pacientes se beneficiam do monitoramento à distância. Esse tipo de tecnologia desenvolveu-se muito rápido durante a pandemia do covid-19 e deve seguir se expandindo nos próximos anos. Mas mais importante que o registro das variáveis é a adequada interpretação.
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