A Ataxia de Friedreich (AF) é uma doença neurodegenerativa hereditária rara, mas de extrema importância clínica. Embora seja pouco frequente, representa a forma mais comum de ataxia hereditária, exigindo um diagnóstico preciso e acompanhamento multidisciplinar.1-6
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas da AF geralmente se manifestam entre os 5 e 20 anos, mas podem ocorrer mais tardiamente em casos raros. A doença segue um curso progressivo, afetando o sistema nervoso central e periférico.1,5,6 Os principais sintomas incluem:
- Ataxia: Perda de coordenação, especialmente da marcha e dos membros.
- Fraqueza muscular: Afeta particularmente os músculos distais.
- Disartria: Dificuldade para articular palavras de maneira clara.
- Perda de reflexos nos membros inferiores.
- Perda auditiva e visual: Envolvimento auditivo bilateral e, em casos raros, alterações visuais.1,5,6
Além desses sintomas, a AF pode causar escoliose, deformidades ósseas, diabetes mellitus e cardiomiopatia, sendo esta última uma das principais causas de mortalidade entre os pacientes.1,2,3,5
O diagnóstico começa com a suspeita clínica, especialmente em pacientes jovens com ataxia progressiva e histórico familiar de doenças neurológicas. A ressonância magnética é fundamental para excluir outras condições. A confirmação diagnóstica é feita por teste genético, a partir da pesquisa da expansão repetida do trinucleotídeo GAA no gene FXN.2,3,5
Tratamento e manejo
O manejo da AF exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo neurologistas, cardiologistas, ortopedistas, endocrinologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. A terapia de suporte é fundamental para melhorar a qualidade de vida e minimizar a progressão dos sintomas.2,3,5
Atualmente, o único tratamento farmacológico aprovado pela FDA e pela Anvisa é o omaveloxolona, um agente que ativa o NRF2, promovendo uma resposta que ajuda a mitigar o estresse oxidativo causado pelo acúmulo de ferro nas mitocôndrias. O omaveloxona tem mostrado resultados promissores em melhorar os sintomas neurológicos, mas seu uso é restrito a pacientes com mais de 16 anos e não inclui indivíduos com diabetes descompensado ou cardiomiopatia grave.4,5,7,8
Outros agentes antioxidantes, como coenzima Q10, vitamina E, idebenona e quelantes de ferro, como deferiprone, já foram testados, mas não demonstraram benefícios significativos no tratamento da doença.4,5,7
Perspectivas futuras
O avanço no entendimento da fisiopatologia da AF tem aberto portas para novas terapias que podem transformar o tratamento da doença. A terapia gênica, visando à restauração da produção de frataxina, é um dos principais focos de pesquisa. Embora as abordagens atuais encontrem obstáculos, principalmente na entrega eficiente do material genético às células alvo, a restauração da frataxina continua sendo um campo promissor.2,6,7
Além disso, estratégias de silenciamento gênico para interromper a repetição do trinucleotídeo GAA têm mostrado resultados iniciais positivos em modelos experimentais e podem se tornar uma alternativa viável para reverter os déficits da doença. A estimulação transcraniana de corrente contínua (ETCC) também está em estudo, especialmente voltada para a melhora da ataxia e da função cognitiva.6,7
Com todas essas alternativas e alvos terapêuticos, novos estudos clínicos com mais pacientes devem ser realizados para aprovação de novas medicações e mudança do paradigma da doença.6,7
Embora a Ataxia de Friedreich continue sendo uma doença progressiva e incapacitante, os avanços recentes, tanto no diagnóstico quanto no tratamento, oferecem novas perspectivas. O futuro das terapias está muito promissor, especialmente com o desenvolvimento de tratamentos genéticos e técnicas inovadoras.
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