Traqueostomia: Qual o melhor método para decidir sobre o momento da decanulação?
Muitos pacientes submetidos à ventilação mecânica recebem uma traqueostomia, mas os métodos de decanulação são pouco estudados.
Mesmo que cerca de 15% dos pacientes submetidos à ventilação mecânica recebam uma traqueostomia como parte de seus cuidados, os métodos de decanulação são pouco estudados. Uma prática comum é tampar o tubo por 24 horas para avaliar se o paciente consegue respirar por conta própria. Mas será que este é o melhor modo de decidir sobre o momento da decanulação?
Um estudo recentemente publicado no New England Journal of Medicine avaliou a eficácia de uma outra técnica: a frequência de sucção como fator indicador do momento da decanulação.
Decanulação de traqueostomia
Os pesquisadores realizaram um estudo randomizado, não cegado, em cinco unidades de terapia intensiva (UTIs) da Espanha. Foram incluídos adultos conscientes após desmame de ventilação mecânica. Os critérios de exclusão foram: contraindicação para decanulação (disfunção grave de deglutição, problema de permeabilidade das vias aéreas, doença neuromuscular diferente de fraqueza adquirida na UTI ou traqueostomia para controle das vias aéreas) ou expectativa de que a morte ocorreria antes da alta hospitalar (escore de Sabadell).
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O desfecho primário definido foi o tempo até a decanulação (tempo desde o término do desmame da ventilação mecânica até a decanulação real). Os desfechos secundários foram falha na decanulação ou de desmame, infecções respiratórias ou sepse, falha multiorgânica, tempo de permanência na UTI e hospital, readmissão na UTI, e óbitos na UTI e no hospital.
Resultados
Ao final das inclusões e exclusões, 330 pacientes internado de maio de 2016 a maio de 2018 foram submetidos à randomização. No grupo controle, 161 deles realizaram teste de limitação e recebimento de terapia de oxigênio de alto fluxo intermitente. No grupo de intervenção, 169 pessoas foram avaliadas de acordo com a frequência de sucção e recepção de oxigenoterapia contínua de alto fluxo.
Oito pacientes em cada grupo não realizaram decanulação. No geral, a idade média (± DP) dos pacientes era 58,3 ± 15,1 anos e 68,2% dos pacientes eram homens.
Em relação ao desfecho primário: o tempo médio de decanulação foi menor no grupo de intervenção (6 dias; intervalo interquartil de 5 a 7) do que no grupo de controle (13 dias; intervalo interquartil de 12 a 14). A diferença absoluta foi de 7 dias (intervalo de confiança [IC] de 95%, 5 a 9).
Entre outros resultados, destacam-se:
- Falha de decanulação em nove pacientes (5,6%) no grupo de controle e em quatro (2,4%) no grupo de intervenção (diferença, 3,2 pontos percentuais; IC 95%, -1,2 a 8,1);
- falha do desmame ocorreu em 27 pacientes (16,7%) no grupo controle e em 11 (6,5%) no grupo intervenção (diferença, 10,3 pontos percentuais; IC 95%, 3,4 a 17,4);
- Infecções respiratórias: pneumonia ocorreu em 16 pacientes (9,9%) no grupo controle e em 7 (4,1%) no grupo intervenção (diferença, 5,8 pontos percentuais; IC 95%, 0,2 a 11,8); traqueobronquite em 47 pacientes (29,2%) no grupo controle e em 32 (18,9%) no grupo intervenção (diferença, 10,3 pontos percentuais; IC 95%, 1,0 a 19,3);
- Permanência em hospital foi de 62 dias (intervalo interquartil, 38 a 105) no grupo controle e 48 dias (intervalo interquartil, 33 a 71) no grupo de intervenção (diferença absoluta, 14 dias; IC 95%, 9 a 33).
Conclusões
O estudo demonstrou um tempo de decanulação menor nos pacientes em que a decisão foi determinado pela frequência de sucção. Apesar disso, não houve diferença significativa na falha de decanulação, não demonstrando problemas ou complicações maiores pelo uso da técnica padrão.
Uma limitação do estudo foram os critérios utilizados para o tempo de decanulação nos dois protocolos. No grupo controle, o ponto de corte para determinar a prontidão para os testes de limitação foi ≤1 aspiração a cada 4 horas por 12 horas, o que pode ter sido muito restritivo e ter prolongado o tempo de hospitalização.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referência bibliográfica:
- Martínez GH, et al. High-Flow Oxygen with Capping or Suctioning for Tracheostomy Decannulation. The New England Journal of Medicine. September 10, 2020 N Engl J Med 2020; 383:1009-1017. https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2010834
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