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Gastroenterologia18 janeiro 2024

Quiz: Por que a escolha do probiótico não deve ser aleatória?

Responda o quiz e teste seus conhecimentos sobre os fatores a serem considerados na prescrição de probióticos!

O termo probiótico é derivado da preposição latina “pro”, que significa “para”, e da palavra grega “biótico”, que significa “vida”. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) definem probióticos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”.1 Nas últimas décadas, a pesquisa na área de probióticos progrediu consideravelmente, com avanços importantes na seleção, caracterização e comercialização de agentes probióticos.

Atualmente, os probióticos estão disponíveis comercialmente na forma de cápsulas, comprimidos, sachês de pó, líquidos e podem até ser adicionados em alimentos, como o iogurte. Para descrever adequadamente um probiótico, o gênero, espécie e cepa de cada microrganismo vivo devem ser detalhados no rótulo do produto (veja o exemplo na Tabela 1).2 Este último é crucial, uma vez que os benefícios para a saúde são específicos à cepa, como será discutido abaixo. Além disso, o rótulo do produto deve incluir o número estimado de bactérias “viáveis” ou “vivas”, medida em unidades formadoras de colônias (UFC). Sabe-se que os probióticos exibem diferenças específicas de cepa em sua capacidade de colonizar o trato gastrointestinal, eficácia clínica e tipo e magnitude dos benefícios à saúde em diferentes grupos populacionais.3

Tabela 1 – Exemplos de nomenclatura de um probiótico – Adaptado do Guideline da Organização Mundial de Gastroenterologia

Diante da disponibilidade de centenas de microrganismos diferentes na formulação de produtos probióticos, médicos e nutricionistas enfrentam cada vez mais dificuldades na escolha do melhor produto probiótico para necessidades específicas. Nesse sentido, um dos conceitos mais importantes acerca dos probióticos é que a análise dos potenciais benefícios à saúde deve ocorrer em nível de cepa. Antes de prescrever um determinado probiótico para um determinado paciente, o profissional de saúde deve levar em consideração diversos fatores, como4:

  1. Identificação adequada de espécies e cepas microbianas de todos os microrganismos contidos no produto, com depósito de todas as cepas na coleção internacional de culturas;
  2. A caracterização da segurança e eficácia probiótica de cada cepa;
  3. Avaliação dos efeitos benéficos no hospedeiro humano por meio de ensaios clínicos controlados;
  4. Entendimento de que um probiótico pode ser eficaz apenas para uma determinada situação ou condição de saúde específica, não sendo seu benefício generalizável;
  5. A concentração mínima de microorganismos vivos/dose diária nos rótulos para se obter determinado benefício (pelo menos a dose testada no estudo clínico, mas geralmente superior a 109 UFC).

Uma confusão comum quando o assunto são probióticos diz respeito ao número de cepas da formulação. Trabalhos recentes, embora ainda com evidência limitada, sugerem que não há nenhuma atividade antagônica entre cepas em produtos de múltiplas cepas, mas tampouco há evidência científica de que quanto maior o número de cepas, mais eficaz é um probiótico.5,6 Independente se um produto probiótico é de cepa única ou múltipla, o benefício para a saúde só pode ser demonstrado por meio de pesquisa clínica, especialmente em ensaios controlados.

A qualidade dos produtos probióticos também depende do processo de fabricação em questão. Produtos probióticos desenvolvidos com cepas aprovadas pela ANVISA precisam passar por um processo de aprovação da agência para garantia de eficácia e estabilidade da formulação. No entanto, é possível encontrar microrganismos comercializados como probióticos em farmácias de manipulação que não passaram pelo mesmo processo específico de avaliação e aprovação pela ANVISA. Questões importantes para a qualidade e segurança probiótica incluem a garantia de potência (manutenção da viabilidade, geralmente indicada por unidades formadoras de colônias, até o final da vida útil), pureza (processos de fabricação que reduzem suficientemente quaisquer patógenos de preocupação), identidade (nomenclatura atualmente usada para especificar o gênero, espécie e subespécie, se aplicável, e uma designação de cepa para cada cepa no produto) e a ausência de resistência transferível a antibióticos.4

Sabemos ainda que o baixo pH do estômago e a secreção de sais biliares no duodeno tornam o trato gastrointestinal um ambiente hostil para o crescimento microbiano. Portanto, a resistência ao baixo pH e a capacidade de hidrolisar sais biliares são características fundamentais na seleção de cepas probióticas para consumo humano. Além disso, a capacidade de aderir, colonizar o intestino e sobreviver ao longo do tempo no ambiente intestinal é uma característica fundamental para microrganismos probióticos, permitindo-lhes exercer suas atividades benéficas.4

Na escolha da melhor espécie ou cepa probiótica para uma determinada situação, deve-se prestar muita atenção aos microrganismos/cepas para os quais a eficácia clínica já foi demonstrada. A decisão nunca deve ser aleatória, pois os probióticos não são iguais. Os benefícios são específicos da cepa. Não é possível presumir, portanto, que cepas diferentes, nem mesmo da mesma espécie, terão os mesmos benefícios. Isso precisa ser documentado. Algumas cepas terão propriedades únicas que podem explicar certas atividades neurológicas, imunológicas e antimicrobianas.7 A nova diretriz da Organização Mundial de Gastroenterologia traz um compilado das cepas estudadas para cada patologia, bem como o nível de evidência estudado, sendo um importante guia para escolher o melhor probiótico em cada circunstância.3 Um exemplo clássico das disparidades de benefício de distintos probióticos pode ser obtido em estudos comparativos de diferentes probióticos no contexto de diarreia aguda infecciosa e pós-antibioticoterapia, em que cepas específicas são potencialmente mais eficazes que outras na redução da intensidade e duração do quadro.8,9 Portanto, a individualização é fundamental diante de cada contexto.

Conclusão

Os probióticos representam uma abordagem promissora para melhorar a saúde humana, assim como para auxiliar na abordagem/intervenção médica de interesse clínico. No entanto, é essencial compreender que os probióticos não são iguais, que combinações aleatórias de microrganismos podem ser deletérias e que os efeitos benéficos são específicos para cada cepa e concentração. Dessa forma, antes de prescrever um probiótico procure saber mais sobre ele, suas características, benefícios e limitações.

1/2

Antes de prescrever um probiótico, é fundamental avaliar diversos fatores. Assinale a alternativa que melhor descreve os fatores a serem avaliados:

ATodas as opções anteriores.

BA identificação adequada de espécies e cepas microbianas de todos os microrganismos contidos no produto e seu potencial sinergismo.

CA eficácia e segurança de determinada cepa para a patologia em tratamento.

DA concentração mínima de microrganismos vivos/dose diária para se obter determinado benefício.

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Referências bibliográficas

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