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Cirurgia13 abril 2022

Toracocentese: o que é e como realizar o procedimento?

A toracocentese pode ser realizada por qualquer médico desde que conheça a técnica de acesso à cavidade pleural por punção.

Por Cleison Brito

A toracocentese, ou punção pleural, é um procedimento que pode ser realizado por qualquer profissional médico desde que conheça a técnica de acesso à cavidade pleural por punção com a finalidade diagnóstica ou terapêutica do derrame pleural pela remoção do acúmulo de líquido anormal ali presente. Com relativa frequência é realizada em pronto atendimento, em pacientes internados e também em pacientes ambulatoriais. Daí a importância de todo profissional médico ter domínio técnico e estar habilitado a realizar este procedimento.

Toracocentese

O que é toracocentese?

O derrame pleural tem uma incidência anual, no brasil, de cerca de  milhão de pessoas por ano. Trata-se do acúmulo anormal de líquido entre as pleuras parietal e visceral. Este acúmulo ocorre, de um modo geral, em decorrência do desequilíbrio entre a entrada e saída de líquido na cavidade pleural. Diariamente são produzidos cerca de 700 ml/dia de líquido que trafega entre o espaço virtual das pleuras com função de lubrificação dos folhetos pleurais. Quase todo o líquido formado é removido pela extensa rede linfática presente na pleura parietal. Seu acúmulo promove o tão temido derrame pleural cujas principais causas são:

  • a) aumento da pressão hidrostática;
  • b) diminuição da pressão oncótica;
  • c) diminuição da pressão no espaço pleural;
  • d) aumento da permeabilidade na microcirculação
  • d) bloqueio da drenagem linfática;
  • e) passagem de líquido a partir do peritônio.

Quando um desses mecanismos está desregulado temos o derrame pleural.

Etiologia

Em pacientes jovens deve-se pensar em tuberculose pleural e processos infecciosos, já nos idosos pensar em insuficiência cardíaca e neoplasia, não se esquecendo da tuberculose e tromboembolismo pulmonar.

Quadro clínico

Os pacientes podem se apresentar relativamente bem com volumosos derrames, ou francamente sintomáticos com volumes pequenos. Entre os sintomas mais comuns há a dispneia, tosse e dor torácica. A depender da etiologia, tais sintomas podem vir acompanhados de astenia, febre e sudorese noturna.

Exame físico

Ao examinar o paciente podemos encontrar expansibilidade ipsilateral ao lado acometido diminuída, frêmito toracovocal diminuído ou abolido, murmúrio vesicular diminuído ou abolido e macicez timpânica à percussão.

Exames de imagem

Na delimitação da extensão de sua extensão podemos lançar mão de exames como radiografia de tórax, ultrassonografia e, principalmente para definir características como a presença de derrame livre ou loculado, a tomografia computadorizada.

Um dos maiores avanços recentes na imagenologia tem sido a versatilidade de uso e facilidade de transporte dos novos aparelhos portáteis de ultrassonografia. A utilização do US pelo médico assistente a beira do leito tem sido cada vez mais frequente e a deteçao de pequenos volumes de derrames pleurais tem sido cada vez mais diagnosticada. O US a beira leito é de grande utilidade tanto para o diagnóstico do derrame e sua localização, assim como  auxiliar a técnica de toracocentese.

Indicações do procedimento

A toracocentese pode ser diagnóstica ou terapêutica. Na primeira, tem sua principal indicação para pacientes com derrame pleural sem diagnóstico etiológico. Na toracocentese terapêutica, indica-se para o alívio sintomático (dispneia, tosse e dor torácica). Normalmente é indicado em neoplasia com acometimento pleural, mas também pode ser indicada em situações que o ajuste da doença de base ainda demora e a dispneia seja incapacitante para o paciente (ex. insf. cardíaca). Sabemos que a toracocentese de alívio irá proporcionar uma melhora temporária, caso os agentes causadores não sejam manejados de forma correta.

Aspectos técnicos do procedimento

Material necessário

  • Campo estéril

  • Jelco nº 14 ou 18

  • Solução antisséptica

  • Seringas de 20ml

  • Lidocaína a 2%

  • Equipo de macrogotas

  • Luvas estéreis

  • Micropore ou esparadrapo

  • Gaze

  • Tubos estéreis para coleta do material

  • Agulhas 40 x 12mm e 30 x 7mm

  • Frasco para coleta da secreção

É importante que previamente à punção, seja checado e preparado de forma organizada o material a ser utilizado.

Técnica

O procedimento deve ser realizado em sala tranquila e que permita o posicionamento adequado e confortável do paciente. Sala de procedimento na emergência, ambulatório ou à beira do leito no cti ou enfermaria. O paciente deve estar sentado, com as pernas para fora do leito, com os braços apoiados em anteparo ou segurando um suporte de soro a sua frente. Caso o paciente seja incapaz de sentar, o dorso da cama deve ser elevado para a posição mais próxima de 90o que for possível.

É fundamental checar se o paciente apresenta alguma discrasia visto que intercorrências hemorrágicas neste procedimento podem  levar a consequências graves.

Após preparar o material e realizar a assepsia o médico deve posicionar-se por atrás do paciente e proceder da seguinte maneira:

Anestesia 

Aspirar o anestésico com uma seringa acoplada à agulha 40 x 12 mm, em seguida com a agulha 30 x 07 mm puncionar na borda superior da costela inferior, na região lateral à musculatura paravertebral e medial à ponta da escápula ipsilateral ao derrame. No caso de pacientes acamados não será possível a realização da toracocentese por punção  no dorso, e assim realizar a punção na linha axilar média ou posterior. Para o melhor manejo da punção nesses pacientes é necessário fixar o braço abduzido na altura da cabeça.A borda superior da costela deve ser escolhida para evitar lesões do feixe vasculo nervoso que passa na borda inferior. Introduzir o anestésico lentamente, sempre lembrando de aspirar para verificar se não puncionou algum vaso. Todos os planos devem ser anestesiados: pele tecido subcutâneo, espaço intercostal e pleura parietall/. Durante a punção com agulha, já é possível confirmar a presença de líquido no local puncionado.

Punção

Após anestesiar, nova punção deve ser realizada exatamente no mesmo local previamente anestesiado, porém desta vez com jelco selecionado acoplado à seringa de 20 ml. Deve-se introduzi-lo lentamente sob aspiração negativa. Após aspiração do líquido pleural, e, portanto, confirmação do dispositivo no espaço interpleural, deve-se retrair um pouco a agulha metálica, deixando o jelco, e coletar cerca de 40 ml para estudo. Nos casos onde a toracocentese será apenas diagnóstica não há necessidade de utilização de cateter extracath pode ser com uma agulha 30×7 mm

Após coleta do material, retrair todo o mandril metálico e acoplar o equipo ao cateter plástico estando a ponta distal do equipo dentro do frasco para coleta da secreção a ser drenada. Interrompa o procedimento após retirada de cerca de 1000 ml a 1500 ml de líquido ou antes deste volume caso o paciente apresente aspectos de síndrome de reexpansão, usualmente esta síndrome é  caracterizada por tosse e/ou expectoração de secreção espumosa. Faça um curativo com gaze e esparadrapo no local da punção.

Conclusão

A toracocentese é um procedimento relativamente simples, porém não livre de complicações. Os exames a serem solicitados, quando se tratar de punção diagnóstica, deverão ser guiados pela clínica e suspeita diagnóstica, dentre eles podemos solicitar: dosagem de proteínas, dhl, ph, glicose, ada, citologia diferencial e oncótica, microbiologia e cultura. Por se tratar de uma patologia tão frequente no cotidiano do profissional de saúde, tal procedimento deve ser de conhecimento de todo médico generalista e acadêmico de medicina a fim de promover um melhor cuidado aos pacientes.

* Conteúdo revisado em abril de 2022 pelo editor de Cirurgia do Portal PEBMED, Felipe Victer.

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Referências bibliográficas

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