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Pediatria20 março 2019

Qual risco antenatal da administração de corticoide?

O tratamento antenatal com corticoide para promover a maturação pulmonar fetal em prematuros pode estar associado à redução do tamanho no nascimento.

Por Camilla Luna

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

O tratamento antenatal realizado com corticoide para promover a maturação pulmonar fetal em casos de risco de nascimento prematuro pode estar associado à redução do tamanho no nascimento, mesmo em casos de nascimento a termo, de acordo com um estudo publicado recentemente na PLoS Medicine.

O uso de corticoide antenatal visando promover a maturação pulmonar de fetos com risco de prematuridade ao nascer é preconizado pelas diretrizes, uma vez que é a única intervenção possível para auxilia na prevenção de desfechos respiratórios adversos que é considerada a principal causa de morbimortalidade nesses bebês.

“Atualmente, a terapia com corticoide é a única ferramenta que temos para amadurecer os pulmões antes do parto prematuro, ela tem sido empregada desde 1972 e atribuída como um tratamento que salva vidas de bebês que, de outra forma, desenvolveriam doença pulmonar grave”, segundo o autor Marjo-Riitta Jarvelin, MD, PhD, Escola de Saúde Pública, Imperial College London.

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Todavia, o risco de parto prematuro nem sempre se materializa, e com isso o uso do corticoide promove uma exposição desnecessária bem como pode ofertar potenciais danos em bebês que nascem a termo.

“O problema é que é difícil saber quais mulheres vão dar à luz prematuramente e aquelas que vão para o período completo quando há sinais de parto prematuro, então este tratamento é usado como precaução”, disse a primeira autora Alina Rodriguez, PhD, do Imperial College London e da Universidade de Lincoln, no Reino Unido.

Em fevereiro de 2019, o estudo publicado na PLoS Medicine realizado na Finlândia avaliou a associação entre o uso do corticoide antenatal com diminuição do tamanho ao nascer em humanos e em animais. Consistiu em uma análise observacional através de registros de 278.508 nascidos vivos (≥ 24 semanas) no período de 1 de janeiro de 2006 a 31 de dezembro de 2010.

Os bebês foram estratificados quanto a idade gestacional ao nascimento, podendo ser considerado prematuro extremo ( 24 a 29 semanas), prematuro (30 a 34 semanas), pré-termo (35 a 37 semanas), atermo (38 a 41 semanas) e pós-termo (≥ 42 semanas). Os desfechos analisados foram o comprimento e peso ao nascer, perímetro cefálico e índice ponderal. A análise estatística foi realizada e ajustada possibilitando avaliar se o comprimento ao nascer foi influenciado pela exposição ao corticoide.

A prematuridade ao nascimento ocorreu em mais de 4% dos casos, e 4.887 mulheres foram expostas à terapia com corticoide antenatal (1,75%) e mais de 44% dos bebês expostos (n= 2.173) nasceram a termo. Os resultados evidenciaram que a exposição ao corticoide antenatal está associado ao baixo peso, menor comprimento e menor perímetro cefálico ao nascer, quando comparadas com bebês cujas mães não haviam sido expostas à terapia, independentemente da idade gestacional ao nascimento – incluindo os que nasceram com 38 semanas ou mais. Todavia, a diminuição do comprimento ao nascer foi maior em recém-nascidos prematuros.

Quando avaliado o peso ao nascimento, houve uma diferença estatística entre os bebês prematuros não expostos com os expostos, estes pesaram 200 g a menos (p <0,001). Quando comparada a diferença entre os recém-nascidos pré-termo não expostos e expostos foi de 114 g a menos neste (p <0,001), já no grupo dos bebês a termo expostos e não expostos foi de 89 g a mais no último grupo (p<0,001). O mesmo ocorreu para o perímetro cefálico e o comprimento ao nascer.

Desse modo, os autores puderam sugerir que houve das crianças expostas à terapia antenatal, quase 45% dos nascimentos ocorreram no termo – evidenciando uma intervenção desnecessária. Todavia, segundo Rodriguez “Ainda não está claro se a redução no peso ao nascer dos bebês tratados é causada diretamente pela droga ou devido às complicações que levaram ao tratamento”, uma vez que trata-se de um estudo observacional e há uma carência de dados que promovem viéses, como por exemplo dados específicos dos medicamentos e informações sobre o intervalo entre a exposição e o nascimento. Assim, cabe ao médico avaliar com bom senso o risco x benefício da intervenção, uma vez que não é isenta de efeitos adversos.

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Referências:

  • Rodriguez A, Wang Y, Ali Khan A, Cartwright R, Gissler M, Ja¨rvelin M-R (2019) Antenatal corticosteroid therapy (ACT) and size at birth: A population-based analysis using the Finnish Medical Birth Register. PLoS Med 16(2): e1002746. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1002746

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