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Pediatria13 maio 2022

Estudo mostra que uma dieta vegetariana foi associada a maiores chances de baixo peso em crianças

Um estudo publicado no jornal Pediatrics mostrou que uma dieta vegetariana foi associada a maiores chances de baixo peso em crianças.  

Um estudo publicado no jornal Pediatrics mostrou que uma dieta vegetariana foi associada a maiores chances de baixo peso em crianças.

Atualmente, as diretrizes internacionais sobre dieta vegetariana na infância têm recomendações diferentes. Isso porque pesquisas que avaliaram a relação entre dieta vegetariana e crescimento e estado nutricional, na infância, obtiveram resultados conflitantes. Diante dessas divergências encontradas na literatura, o objetivo principal do estudo Vegetarian Diet, Growth, and Nutrition in Early Childhood: A Longitudinal Cohort Study foi avaliar as relações entre dieta vegetariana abstrata e crescimento, reservas de micronutrientes e lipídios séricos entre crianças saudáveis. Os objetivos secundários incluíram explorar se o consumo de leite de vaca ou a idade modificavam essas relações.

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Metodologia

Os pesquisadores Elliot e colaboradores conduziram um estudo de coorte longitudinal, incluindo crianças de seis meses a oito anos de idade que participaram de um projeto denominado TARGet Kids!, entre 2008 e 2019. O TARGet Kids! é uma rede de pesquisa baseada na prática de atenção primária em Toronto, Canadá.

Assistentes de pesquisa treinados recrutaram crianças de 13 clínicas de pediatria ou medicina de família durante consultas regulares de acompanhamento. Informações demográficas basais, exposição e dados de desfechos foram coletados por meio de um questionário padronizado. Foram excluídas crianças com comorbidades que afetam o crescimento, condições crônicas (exceto asma) ou comprometimento do desenvolvimento inicial.

Resultados

No total, 8.907 crianças participaram, incluindo 248 que eram vegetarianas no início do estudo (25 veganos) e 338 que já relataram dieta vegetariana entre seis meses e oito anos de idade. Sessenta e nove por cento (6.175 de 8.907) dos participantes tiveram duas ou mais medidas. A média de idade, no início do estudo, foi de 2,2 anos e 52,4% eram do sexo masculino. As crianças foram acompanhadas por uma média de 2,8 anos.

Crianças com dieta vegetariana tiveram maior duração da amamentação (12,6 meses versus 10,0 meses) e eram mais propensas a ter etnia asiática (33,8% versus 19,0%). Fora isso, as crianças com e sem dieta vegetariana pareciam semelhantes na linha de base.

Não houve evidência de associação entre dieta vegetariana e escore z para o índice de massa corporal (IMC), escore z de altura para idade, ferritina sérica, 25-hidroxivitamina D ou lipídios séricos. As crianças com dieta vegetariana apresentaram maiores chances de baixo peso (zBMI < 2) (odds ratio 1,87, intervalo de confiança de 95% 1,19 a 2,96; P = 0,007), mas nenhuma associação com sobrepeso ou obesidade foi encontrada. Além disso, não houve evidência de modificação do efeito por idade (P = 0,97) ou consumo de leite de vaca (P = 0 ,69).

O consumo de leite de vaca foi associado a maior colesterol não-HDL (P = 0,03), colesterol total (P = 0,04) e colesterol LDL (P = 0,02) entre crianças com dieta vegetariana. No entanto, crianças com e sem dieta vegetariana, que consumiram as duas xícaras de leite de vaca recomendadas por dia, apresentaram lipídios séricos semelhantes. Não houve evidência de interação por idade em qualquer um dos modelos.

Conclusões

Neste estudo, os pesquisadores não encontraram evidências de diferenças clinicamente significativas no crescimento ou medidas bioquímicas de nutrição para crianças com dieta vegetariana. No entanto, a dieta vegetariana foi associada a maiores chances de baixo peso, ressaltando a necessidade de um planejamento alimentar cuidadoso para crianças nessas condições, ao se considerar dietas vegetarianas.

Comentário

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) aconselham que a variabilidade na composição dos alimentos tende a ser a melhor opção para que o risco de carência de micronutrientes seja reduzido e que aportes energéticos, de macro e de micronutrientes, devam ser monitorados de forma periódica. Ademais, coletas séricas e regulares de micronutrientes devem auxiliar o manejo adequado do paciente pediátrico vegetariano.

Leia mais: Recomendações sobre a dieta vegetariana em crianças e adolescentes

Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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Referências bibliográficas

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