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Pediatria25 abril 2021

EAP 2021: torcicolo espontâneo em uma criança de 10 anos – relato de caso

Um caso clínico muito interessante de torcicolo adquirido espontaneamente foi apresentado no European Academy of Pediatrics (EAP 2021).

Um caso clínico muito interessante de torcicolo adquirido espontaneamente (TAE) foi apresentado no European Academy of Pediatrics Congress (EAP 2021).

O TAE é uma complicação frequente em Departamentos de Emergência Pediátrica (DEP). Na maioria dos casos, resulta de contratura muscular devido à má postura ou após infecções de vias aéreas superiores (IVAS) que causam linfadenite cervical. No entanto, é imperativa a exclusão de outras etiologias diante de um paciente com torcicolo persistente.

médica avaliando torcicolo espontâneo de paciente

Torcicolo espontâneo

Ana Sofia Rodrigues e colaboradores (Portugal) relataram o caso de uma menina de 10 anos que deu entrada no DEP com história de 37 dias de dor cervical de início súbito e lateralização do pescoço para a esquerda. Essa paciente tinha um relato de perda de 7 anos de acompanhamento genético, devido a um fenótipo longilíneo, hiperfrouxidão ligamentar, palato ogival e afinamento capilar.

Não havia nenhum relato de trauma ou infecção prévios. Essa criança já havia sido atendida anteriormente outras vezes no DEP e foi medicada com anti-inflamatórios não esteroidais e relaxantes musculares, além de imobilização com colar cervical, porém sem nenhuma melhora.

Ao exame, a criança apresentava torcicolo doloroso com rotação cervical completa para a esquerda e elevação do ombro direito. Seu fenótipo era do tipo longilíneo com tronco curto, aracnodactilia, hiperfrouxidão ligamentar e deformidade vertebral com hipercifose sacrococcígea, todas sugestivas de doença do tecido conjuntivo. A avaliação puberal evidenciou Tanner III. O exame neurológico era normal. Foi realizada tomografia computadorizada (TC) cervical que revelou subluxação rotatória atlantoaxial à esquerda (cerca de 45 graus).

Essa paciente foi encaminhada ao Serviço de Ortopedia e Traumatologia de um hospital terciário português, onde foi realizada ressonância magnética da coluna cervical, evidenciando subluxação atlanto-occipital e subluxação rotatória de C1-C2 à esquerda.

Com base nessas imagens, foi então submetida a tração craniana, com TC confirmando a redução e atualmente aguarda fusão espinhal definitiva. Após a alta, ela segue mantendo acompanhamento multidisciplinar.

Os autores destacaram que o torcicolo espontâneo tem um amplo espectro de apresentação: benigno e autolimitado a quadros graves e potencialmente fatais, sendo essencial uma avaliação diagnóstica minuciosa. As subluxações atlanto-occipital e atlantoaxial não traumáticas são raras e secundárias a um quadro infeccioso ou, menos frequentemente, associadas a doenças reumatológicas ou síndromes genéticas.

Este caso é bastante intrigante e mostra uma causa rara de torcicolo e a relevância da anamnese e exame físico cuidadosos e completos, em busca de manifestações clínicas que possam indicar uma doença de base.

Estamos fazendo a cobertura do EAP 2021; acompanhe com a gente!

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Autoria

Foto de Roberta Esteves Vieira de Castro

Roberta Esteves Vieira de Castro

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

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