A rinite alérgica (RA) é uma condição inflamatória das vias aéreas superiores, induzida por resposta IgE mediada após contato com aeroalérgenos. Os sintomas nasais típicos incluem coriza, espirros, prurido e obstrução nasal, mas, frequentemente, manifestam-se também sintomas oculares na rinite alérgica, que podem ocorrer isoladamente ou em conjunto com os nasais.1
No V Consenso Brasileiro sobre Rinites, lançado em 2024 pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF), são destacados os seguintes sintomas oculares: prurido ocular, lacrimejamento e hiperemia conjuntival.1
A presença desses sintomas pode ser indicativa de uma resposta alérgica que afeta simultaneamente a mucosa nasal e conjuntival, também denominada rinoconjuntivite alérgica (RCA), a qual pode estar presente em 78 a 79% dos pacientes com RA e afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes.1,2 O manejo adequado da RCA requer uma abordagem integrada para controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
Diagnóstico
O diagnóstico de rinoconjuntivite alérgica é essencialmente clínico, baseando-se em uma história clínica detalhada, identificando a relação entre os sintomas e a exposição a alérgenos específicos, como pólen, ácaros, pelos de animais e poeira doméstica.1,3 No exame físico, é importante observar sinais de inflamação ocular, como edema e hiperemia conjuntival, e sinais de inflamação nasal, como palidez de mucosa, hipertrofia de cornetos inferiores, secreção nasal e respiração bucal.1
Exames complementares, como testes cutâneos ou dosagem de IgE específica no sangue, podem ser úteis para confirmar a etiologia alérgica e identificar os alérgenos específicos.1,3 É importante pontuar que os testes alérgicos são úteis para confirmar a resposta IgE mediada e definir a qual alérgeno o paciente apresenta sensibilização, mas sozinhos não fecham diagnóstico, devendo estar sempre associados à história clínica compatível.1
Tratamento
O tratamento da rinoconjuntivite alérgica envolve uma abordagem integrada em múltiplas frentes, incluindo medidas ambientais, farmacológicas e, em alguns casos, imunoterapia alérgeno específica.
Medidas não farmacológicas:
- Evitar exposição a alérgenos conhecidos, utilização de capas impermeáveis em colchões e travesseiros, lavagem semanal de roupas de cama com água quente, evitar que os animais domésticos fiquem dentro do quarto e uso de purificadores de ar com filtro HEPA.1
Tratamento farmacológico:
- Medicações tópicas oculares: anti-histamínicos, estabilizadores de mastócitos, anti-inflamatórios não esteroidais e corticoides.1 No entanto, a adesão é um grande problema no uso de colírios, o que é potencializado quando o paciente apresenta outras comorbidades alérgicas e necessita o uso de diferentes dispositivos, portanto pode ser interessante considerar a redução de dispositivos com medicações que tratem diferentes sistemas simultaneamente.4
- Anti-histamínicos orais: São eficazes para o controle de sintomas nasais e oculares, como coriza, espirros e prurido ocular, mas tem pouca ação em sintomas de fase tardia da rinite alérgica, como a obstrução nasal.1
- Corticosteroides intranasais: O tratamento efetivo para a rinite alérgica são os corticoides intranasais, capazes de tratar todos os sintomas da doença, portanto podem apresentar também melhoria significativa nos sintomas oculares.1,5
Os corticoides intranasais de segunda geração, como o furoato de fluticasona, possuem menor biodisponibilidade sistêmica e se ligam de forma mais potente ao receptor de corticoesteroides6*, gerando um baixo risco de efeitos colaterais e um ótimo perfil de segurança. Além disso, apresentam resultados semelhante aos anti-histamínicos orais para tratamento de sintomas oculares agudos na rinoconjuntivite alérgica2, com o benefício adicional de controlar também os sintomas nasais de fase tardia, sendo usados como tratamento de manutenção.
O furoato de fluticasona tem uma meia-vida longa, o que permite a administração uma vez ao dia, facilitando a adesão ao tratamento. Estudos mostraram que o furoato de fluticasona na dose de 110 microgramas uma vez ao dia foi efetivo como monoterapia para aliviar tanto os sintomas nasais como oculares.2,5,7-11**
Imunoterapia:
- Em casos de rinoconjuntivite alérgica persistente e grave, a imunoterapia alérgeno-específica pode ser considerada. Ela visa dessensibilizar o paciente à exposição contínua ao alérgeno, sendo efetivo no tratamento a longo prazo, especialmente em casos em que os sintomas não respondem adequadamente ao tratamento farmacológico.12
A rinoconjuntivite alérgica é uma condição que pode comprometer significativamente a qualidade de vida dos pacientes. O diagnóstico precoce, combinado com uma abordagem terapêutica adequada, pode melhorar substancialmente os sintomas e a qualidade de vida. O manejo ideal envolve uma combinação de medidas preventivas, farmacológicas e, em casos selecionados, imunoterapia. A personalização do tratamento, levando em consideração a gravidade dos sintomas e a resposta individual ao tratamento, é fundamental para um controle efetivo da doença. Como muitas vezes os sintomais nasais e oculares estão associados, os corticoides intranasais mostram-se como boa opção de monoterapia para controle a longo prazo e redução de dispositivos para pacientes com diferentes comorbidades alérgicas.
*Dados in vitro
O significado clínico é desconhecido. O furoato de fluticasona demonstrou uma afinidade de 2989 pelo receptor de glicocorticoide e uma biodisponibilidade de 0,5%.
**Furoato de fluticasona está indicado para o tratamento de sintomas oculares da RA em pacientes a partir de 12 anos de idade.
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