A rinite alérgica destaca-se entre as doenças respiratórias crônicas por sua alta prevalência, afetando cerca de 20 a 25% da população geral. Embora apresente sintomas menos graves que a asma, é uma das principais causas de atendimento em Atenção Primária. Considerada por muitos uma condição trivial, a rinite alérgica impacta significativamente a qualidade de vida, influenciando o desempenho acadêmico, profissional e social dos pacientes.1
Fatores de risco
Os fatores de risco para a rinite alérgica incluem2:
- Genética: o histórico familiar de doenças alérgicas aumenta a predisposição.
- Interações gene-ambiente e epigenética: exposições ambientais durante períodos críticos, como a gestação e a primeira infância, influenciam a expressão genética.
- Alérgenos inalantes: exposição precoce a ácaros, polens, pelos de animais e fungos são fatores de risco significativos.
- Poluição ambiental: poluentes atmosféricos, como material particulado e gases tóxicos, contribuem para o desenvolvimento da rinite alérgica.
- Fumaça de tabaco: tanto o tabagismo ativo quanto o passivo aumentam o risco.
- Fatores socioeconômicos: baixa renda, condições de habitação inadequadas e acesso limitado a cuidados de saúde são fatores adicionais.
Em 2016, as diretrizes globais de qualidade do ar, da Organização Mundial da Saúde (OMS), alertaram que apenas uma em cada dez pessoas respira ar de qualidade, com crianças sendo as mais vulneráveis, devido ao desenvolvimento incompleto do sistema imunológico e pulmonar.1
Em 2024, o Brasil enfrentou dez episódios climáticos extremos, sendo três deles considerados inéditos: chuvas intensas no Rio Grande do Sul, uma seca sem precedentes na região amazônica e uma forte onda de calor que atingiu o centro do país. O Pantanal vivenciou a maior estiagem das últimas sete décadas, agravando o risco de incêndios na região. Entre o fim de agosto e o início de setembro, o Centro-Oeste registrou temperaturas até 7°C acima da média histórica, com diversas localidades superando os 41°C — destaque para Cuiabá, que atingiu 42,2°C, estabelecendo um novo recorde. Tais fenômenos refletem de forma contundente os efeitos das mudanças climáticas sobre os biomas nacionais e a saúde das populações afetadas.3
A queima da vegetação libera uma mistura complexa de poluentes atmosféricos, representando cerca de 40% das emissões globais de monóxido de carbono (CO), 35% de material particulado (MP) carbonáceo e 20% de óxidos de nitrogênio (NOx). Essas partículas são classificadas de acordo com seu diâmetro aerodinâmico: as partículas grossas (MP10) têm até 10μm, enquanto as partículas finas (MP2,5) possuem diâmetro igual ou inferior a 2,5μm. Os incêndios florestais elevam drasticamente as concentrações de MP2,5 — chegando a ultrapassar 2000μg/m³ —, impactando negativamente a saúde humana, inclusive em áreas distantes dos focos de queima. O MP2,5 é especialmente nocivo por alcançar regiões profundas do trato respiratório, sendo associado ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares e respiratórias. Estima-se que 90% das emissões globais de MP2,5 provenientes de incêndios ocorram em regiões tropicais e subtropicais. No Brasil, os biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado têm sofrido intensificação da devastação entre 2020 e 2021. Somente até maio de 2021, a Amazônia perdeu 1.180km² de floresta, um aumento de 83% em relação ao mesmo período do ano anterior.4,5
As mudanças climáticas e a poluição atmosférica têm um impacto significativo na saúde respiratória, especialmente em condições alérgicas, como a rinite. A exposição a poluentes ambientais pode agravar os sintomas da rinite alérgica e aumentar sua prevalência.6 A poluição do ar danifica o epitélio nasal, facilita a entrada de alérgenos e aumenta a resposta inflamatória das vias respiratórias.7
Pesquisas indicam que fatores ambientais têm um impacto crescente na saúde, principalmente no aumento das doenças alérgicas e suas crises, como rinite e asma.6 A urbanização e industrialização, com o uso intensivo de combustíveis fósseis, contribuíram para a poluição do ar e mudanças climáticas, intensificando esses problemas.5
Estudos demonstram que a exposição pré e pós-natal a poluentes ambientais pode aumentar a morbimortalidade de doenças alérgicas. Esses poluentes modificam a microbiota, impactam a resposta imunológica e exercem ação direta tanto na pele quanto no epitélio respiratório, favorecendo a entrada de alérgenos.7 O impacto ambiental na saúde respiratória inclui alterações epigenéticas induzidas por poluentes, contribuindo para respostas inflamatórias exacerbadas nas vias aéreas.2 Além disso, a poluição impacta na exacerbação de doenças, como rinite alérgica e asma, reforçando a importância de estratégias preventivas e de controle ambiental para mitigar esses efeitos.2
Mudanças na temperatura, umidade e poluição também alteram o crescimento e a produção de alérgenos, em especial de ácaros e fungos, aumentando a sensibilização, principalmente em áreas subtropicais e tropicais. O calor extremo potencializa o efeito tóxico dos poluentes, intensificando a alergenicidade dos aeroalérgenos. Dados internacionais do ISAAC indicam maior prevalência de rinite alérgica em centros próximos à linha do Equador.2
Destacam-se como os principais poluentes que afetam a rinite alérgica2,7
- Material particulado (MP): proveniente da queima de combustíveis, pólen, poeira e atividades de construção. Afeta diferentes partes do sistema respiratório, causando irritação, inflamação, estresse oxidativo e doenças pulmonares crônicas, podendo ser carcinogênico.
- Ozônio (O₃): formado por reações químicas na presença de luz solar, causa lesões, inflamação e hiperreatividade nas vias respiratórias.
- Dióxido de nitrogênio (NO₂): emitido por veículos, indústrias e fogões a gás, irrita as vias aéreas, aumentando a suscetibilidade a infecções.
- Dióxido de enxofre (SO₂): derivado da queima de combustíveis com enxofre, provoca irritação e inflamação respiratória.
- Monóxido de carbono (CO): emitido por veículos e sistemas de aquecimento, causa hipóxia celular e pode estar associado à morte fetal.
- Toxinas do ar: incluem benzeno, mercúrio e formaldeído, provenientes da combustão de combustíveis fósseis e processos industriais, representando riscos tóxicos severos.
Implementar as medidas abaixo pode contribuir para reduzir os impactos da poluição/mudanças climáticas nos sintomas da rinite alérgica e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados. 6,8
- Acompanhar os índices de poluição e evitar atividades ao ar livre em dias com alta concentração de poluentes.
- Manter janelas fechadas em dias de alta poluição.
- Manter os ambientes fechados limpos, utilizando purificadores de ar e evitando o acúmulo de poeira e mofo.
- Limpar regularmente superfícies para evitar o acúmulo de poeira.
- Usar máscaras em locais com alta poluição pode reduzir a inalação de partículas nocivas.
- Apoiar e promover políticas públicas que visem à redução da emissão de poluentes, como o uso de energias renováveis e melhorias no transporte público.
- Educação ambiental para conscientizar a população sobre os efeitos da poluição na saúde e as formas de mitigação.
- A prática de exercício físico regular pode contribuir para amenizar os efeitos da poluição do ar.
Acredita-se que a redução dos níveis de emissões aos padrões recomendados pela OMS e pelo Acordo de Paris possa resultar em uma queda de até 60% no número de óbitos atribuídos à poluição a cada ano. Os profissionais de saúde devem estar aptos a orientar e educar a população sobre a adoção de uma alimentação saudável, a prática constante de atividades físicas e o manejo adequado de doenças crônicas. Além disso, devem colaborar ativamente para o incentivo e implementação de medidas que visem à redução das emissões, contribuindo, assim, para a preservação e recuperação do meio ambiente.6
Além da relevância das medidas acima, antes de iniciar a terapia medicamentosa, é fundamental identificar e minimizar a exposição aos alérgenos desencadeantes, como ácaros, pólen, fungos e pelos de animais. Essas medidas podem incluir o uso de capas antiácaro, redução da umidade em ambientes internos e evitar o contato com animais domésticos.8
Os corticosteroides intranasais (CI) são a opção terapêutica mais eficaz para o tratamento da rinite alérgica2 e, frequentemente, utilizados em conjunto com corticosteroides inalatórios em pacientes que também apresentam asma.8,9 Estão disponíveis em diversas formulações de primeira e segunda geração. As variações estruturais dos CI influenciam a afinidade pelos receptores de glicocorticoides, a potência anti-inflamatória tópica e propriedades farmacocinéticas, o que impacta na atividade sistêmica e no índice terapêutico de cada molécula.9
Dentre os corticosteroides intranasais (CI), o furoato de fluticasona destaca-se como eficaz devido à sua farmacodinâmica com alta afinidade pelo receptor de glicocorticoides.9* Sua fórmula apresenta baixa biodisponibilidade sistêmica e é indicada para crianças a partir de 2 anos de idade. Já para o tratamento de sintomas oculares da RA, é indicada para pacientes a partir de 12 anos de idade.10 Além disso, possui posologia cômoda, sendo utilizado uma vez ao dia.10
É essencial que o tratamento seja individualizado, levando em consideração as características específicas de cada paciente, incluindo a presença de comorbidades bem estabelecidas, como a asma.2 A adesão às medidas de controle ambiental e poluentes, e ao regime terapêutico prescrito é crucial para o sucesso no manejo da rinite alérgica.8
*Dados in vitro. O significado clínico é desconhecido. Relação de afinidade ao receptor de glicocorticoide dos corticosteroides inalatórios: furoato de fluticasona (FF), 2989; furoato de mometasona (FM), 2100; budesonida (BUD), 935; triancinolona acetonida (TAA), 233. Biodisponibilidade: FF, 0,5%; FM, 0,46%; BUD, 31%; TAA, 46%.
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