A principal fonte de amônia é a quebra de glutamina por enterócitos e catabolismo de fontes nitrogenadas pelas bactérias colônicas. A amonemia aumenta no paciente cirrótico devido a alterações no ciclo da ureia, shunts portosistêmicos e redução da massa muscular. Acredita-se que a amônia tenha papel importante na fisiopatologia da encefalopatia hepática.
Como medir a amonemia?
Amostras de sangue venoso ou arterial devem ser colhidas, idealmente, sem aplicação de torniquete. A amostra deve colocada imediatamente no gelo e transportada ao laboratório. A dosagem de amônia pode aumentar levemente em algumas condições, especialmente após exercício físico ou refeição rica em proteínas.
Causas comuns de hiperamonemia |
Doença hepática |
Shunt portosistêmico |
Induzido por drogas: valproato de sódio, L-asparaginase, barbitúricos, sunitinibe, regorafenibe, 5-fluorouracil, etc. |
Erros inatos do metabolismo |
Ureterosigmoidostomia |
Exercício físico extenuante |
Tabagismo |
Doença renal |
Choque |
Sangramento gastrointestinal |
Nutrição parenteral |
Intoxicação por salicilato |
Infecção urinária por Proteus mirabilis |
Infecção sistêmica por Mycoplasma hominis ou Ureaplasma spp em transplantados pulmonares |
Síndrome pós-ressecção transuretral de próstata |
Quando e por que dosar amônia no cirrótico?
- A amonemia auxilia no diagnóstico diferencial da encefalopatia hepática? Sim, em casos de dilema diagnóstico.
Uma dosagem normal de amônia no paciente cirrótico com alterações neurológicas deve nos levar a pensar em diagnósticos alternativos, como acidente vascular encefálico, sepse, hemorragias intracranianas ou encefalopatia por drogas. Nesses casos, muitas vezes é necessária realização de tomografia de crânio e eletroencefalograma para elucidação do dilema diagnóstico. No entanto, ainda é muito controversa a utilização da amônia para diagnóstico diferencial da encefalopatia hepática, devendo sempre prevalecer o diagnóstico clínico, baseado nos critérios de West Haven. Cabe ressaltar que, mesmo com nível sérico normal de amônia, o diagnóstico pode ser de encefalopatia hepática.
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- A dosagem de amônia se correlaciona a gravidade da encefalopatia hepática? Não.
De maneira geral, a amonemia não se correlaciona com gravidade clínica da encefalopatia hepática, embora alguns autores tenham demonstrado que níveis muito elevados se associam a encefalopatia mais grave.
- A hiperamonemia é fator prognóstico na cirrose? Aparentemente, sim.
Episódios de encefalopatia hepática estão associados a pior prognóstico na cirrose independentemente da função hepática. Cirróticos com amônia > 1,5x o limite superior da normalidade tem duas vezes mais chance de desenvolver encefalopatia (44×22%). Além disso, pacientes com nível sérico de amônia superior a 60 micromol/L apresentam maior risco de morte e transplante em 30 (32×15%) e 90 dias (45×31%). No entanto, as implicações clínicas da determinação sistemática da amonemia em cirróticos ainda não foram estabelecidas.
- Devemos medir o nível sérico de amônia após intervenções terapêuticas? Não se sabe.
Não se sabe se a dosagem seriada de amônia poderia ajudar na diferenciação de respondedores e não respondedores às terapias para encefalopatia hepática. Entretanto, estudo recente de Haj & Rockey demonstrou que a dosagem sérica de amônia não altera o manejo de pacientes cirróticos com encefalopatia.
- A hiperamonemia é fator de mau prognóstico na insuficiência hepática aguda? Sim.
A ocorrência de encefalopatia hepática durante falência hepática aguda é um sinal de evolução para hepatite fulminante e de mau prognóstico. Níveis de amônia arterial superiores a 100 micromol/L são capazes de predizer a ocorrência de encefalopatia hepática grave (grau III ou IV de West Haven) em 70% dos casos. Níveis superiores a 200 micromol/L se associam a hipertensão intracraniana ou com herniação cerebral em 50% dos indivíduos.
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Conclusão
A dosagem de amônia no paciente cirrótico ainda é muito controversa. Pode auxiliar no diagnóstico diferencial de encefalopatia hepática em casos complexos. Ainda não está claro seu papel como exame prognóstico nessa população. Novos estudos são necessários para avaliar o papel desse biomarcador no manejo do paciente com cirrose hepática.
Referências bibliográficas:
- Mallet M, et al. Why and when to measure ammonemia in cirrhosis? Clin Res Hepatol Gastroenterol. 2018;42 (6): 505-511.
- Haj M, et al. Ammonia levels do not guide clinical management of patients with hepatic encephalopathy caused by cirrhosis. Am J Gastroenterol. 2020;115:723-728.
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