Como infliximabe e tofacitinibe afetam resposta vacinal contra covid-19?
Um estudo avaliou a taxa de respostas de anticorpos neutralizantes funcionais contra o SARS-CoV-2 primitivo e variante Ômicron.
A pandemia de covid-19 veio reforçar a importância da vacinação como método de prevenção de formas graves e de transmissão da doença de forma eficaz a nível populacional. Contudo, o advento de variantes mais transmissíveis como Ômicron, novamente trouxe preocupação no quesito de aumento da transmissão da doença entre indivíduos vacinados e não vacinados.
Como os pacientes com doença inflamatória intestinal (DII), em sua maioria, são imunossuprimidos, o surgimento dessas variantes trouxe preocupações em relação à imunogenicidade e eficácia das vacinas.
Diante desse cenário, foi realizado um estudo populacional, cujo objetivo foi avaliar a taxa de respostas de anticorpos neutralizantes funcionais contra o SARS-CoV-2 primitivo e variante Ômicron em pacientes com DII em vigência de tratamento imunossupressor/imunobiológico.
Métodos
A partir de uma coorte para avaliação da imunogenicidade vacinal para SARS-CoV-2, foram selecionados 268 indivíduos com DII, sem evidência de infecção ativa pela covid-19, no período entre maio de 2021 a março de 2022. Dentre esses pacientes, 36 vinham em uso de infliximabe, 51 em uso de tiopurinas, 39 em uso de comboterapia de infliximabe e tiopurina, 39 em uso de ustequinumabe, 38 usando vedolizumabe e 16 tratados com tofacitinibe.
Esses participantes receberam duas doses de vacina de RNA mensageiro ou vacina de vetor de adenovírus e como terceira dose, fizeram uso de vacina de RNA mensageiro. O grupo controle foi formado por 49 indivíduos hígidos. A avaliação de resposta vacinal humoral foi realizada a partir de ensaio de pseudoneutralização da cepa primitiva de Sars-COV2 e da variante Ômicron BA.1.
Resultados
Em todos os grupos de tratamento, houve aumento de anticorpos neutralizantes contra ambas as cepas após uma terceira dose de vacina. Porém, o título de neutralização de 50% (NT50) foi estatisticamente menor contra a variante Ômicron, independente do tratamento imunossupressor em vigência.
Ao estratificar por grupo de tratamento, observou-se menor resposta após 2ª e 3ª dose da vacina entre os pacientes tratados com infliximabe em mono ou comboterapia e tofacitinibe.
Entre os pacientes avaliados, 13 não conseguiram atingir uma resposta adequada (NT50) contra a variante Ômicron com duas doses da vacina, sendo que sete desses eram tratados com infliximabe em monoterapia.
O estudo demonstrou que títulos de anticorpos mais baixos estão associados a risco aumentado de infecção pelo SARS-COV2. Participantes com NT50 <500 contra a cepa ancestral SARS-CoV-2 têm probabilidade 1,6 vezes maior de infecção em comparação com os participantes com NT50 > 500 ( P = 0,066).
45,9% dos pacientes com DII apresentaram NT50 > 500 contra a cepa ancestral SARS-CoV-2 após duas doses de vacina e .85,3% após três doses. No grupo controle 65,3% tiveram um NT50 > 500 após duas doses de vacina. As infecções que ocorreram nessa coorte não necessitaram de hospitalização e não cursaram com óbito.
No geral, em relação à variante Ômicron, os títulos de neutralização pelos anticorpos foram baixos para todos os indivíduos, sendo consideravelmente menores em pacientes usando infliximabe em mono ou comboterapia ou tofacitinibe.
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Mensagens práticas
Doses de reforço de vacinação aumentam significativamente as respostas de anticorpos neutralizantes contra as variantes ancestrais e Ômicron do SARS-CoV-2, mas essa resposta é significativamente menor em pacientes estabelecidos com infliximabe ou tofacitinibe. As novas mutações no genoma viral aumentam o risco de fuga da resposta imune, sendo importante constante revisão do tema.
Sabe-se que existem diversas mutações na proteína Ômicron spike, que podem levar a uma fuga significativa da proteção imunológica de vacinas idealizadas contra o vírus SARS-CoV-2 primitivo. Dessa forma, o uso de vacinas bivalentes é recomendado, a fim de melhorar a resposta imune contra as variantes virais, devendo ser seu uso preferencial, especialmente em pacientes com DII em uso de agentes anti-TNF ou inibidores de JAK.
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