Uso de vitamina B12 no tratamento da neuropatia diabética: existem evidências?
A deficiência de vitamina B12 está associada a múltiplas manifestações neurológicas, que podem ser erroneamente ligadas à neuropatia diabética.
A vitamina B12 desempenha um papel vital no metabolismo de ácidos graxos essenciais para a manutenção da mielina nervosa. A deficiência de vitamina B12 está associada a múltiplas manifestações neurológicas e neurocognitivas, incluindo neuropatia periférica e autonômica, degeneração subaguda combinada da medula espinhal, delirium, demência e desmielinização axonal.
Essas manifestações neurológicas podem ser erroneamente interpretadas como manifestações de neuropatia diabética em pacientes diabéticos, especialmente aqueles em uso crônico de metformina.
Neuropatia diabética
A neuropatia periférica é caracterizada por dano difuso às fibras nervosas periféricas, e sua causa mais comum é o diabetes mellitus. A polineuropatia sensitivo-motora diabética está associada a uma qualidade de vida prejudicada, morbidade significativa e aumento dos custos com saúde. Os sintomas da neuropatia diabética dolorosa podem ser debilitantes e causar distúrbios do sono, ansiedade e interferir no funcionamento físico.
A neuropatia diabética, com ou sem deficiência de vitamina B12, foi tratada com vitaminas neurotrópicas por décadas. O tratamento da neuropatia diabética pode ser uma experiência frustrante para médicos e pacientes, e a eficácia clínica da terapia com vitamina B12 na neuropatia periférica diabética ainda é incerta, embora a maioria dos estudos falem contra essa suplementação, quando não há deficiência vitamínica comprovada.
Os consensos recentes indicam que, além de perseverar um bom controle glicêmico, o paciente com neuropatia diabética pode fazer uso de agentes que modulam a dor, como agentes tricíclicos (amitriptilina, nortriptilina), inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina (duloxetina, venlafaxina) ou análogos do ácido γ-aminobutírico (gabapentina ou pregabalina) como agentes de primeira linha, seguidos por opioides e tratamentos tópicos. Agentes que agem modulando a recaptação de glicose perifericamente, como o ácido tióctico, podem ter boa eficácia como adjuvantes neste tratamento.
Novo estudo
Uma revisão sistemática recentemente conduzida tentou avaliar evidências existentes sobre a eficácia da suplementação de vitamina B12 para o tratamento da neuropatia periférica diabética. Mudanças nos limiares de percepção na vibração, sintomas neuropáticos e velocidades de condução nervosa, bem como os efeitos adversos da terapia com vitamina B12, foram avaliados. Quatro estudos compreendendo 363 pacientes preencheram os critérios de inclusão.
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Conclusões
Esta revisão não encontrou evidências de que o uso de suplementos orais de vitamina B12 esteja associado à melhora dos sintomas clínicos de neuropatia diabética. Além disso, a maioria dos estudos não relatou melhora nos marcadores eletrofisiológicos de condução nervosa. Os níveis de vitamina B12 devem, entretanto, ser monitorados em pacientes que tomam metformina cronicamente, especialmente em pacientes com neuropatia diabética.
Referências bibliográficas:
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