Logotipo Afya

Produzido por

Anúncio
Endocrinologia19 maio 2022

Novo guideline para o manejo da doença hepática gordurosa não alcoólica

No último dia 12 de maio de 2022, o American Association of Clinical Endocrinology (AACE) publicou um guideline sobre o diagnóstico e o manejo da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) voltad…

Por Erik Trovão

No último dia 12 de maio de 2022, o American Association of Clinical Endocrinology (AACE) publicou um guideline sobre o diagnóstico e o manejo da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) voltado para médicos endocrinologistas. O objetivo é chamar a atenção para esta doença, cuja maior parte dos acometidos são atendidos na atenção primária e em serviços de endocrinologia.

Afinal, há uma importante associação da DHGNA com resistência à insulina, obesidade e diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Estima-se, por exemplo, que cerca de 70% dos pacientes com DM2 tem DHGNA. Este número sobe para 90% quando os pacientes com DM2 têm índice de massa corpórea (IMC) acima de 35 Kg/m2.

Considerando que mais de 20% dos pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica vão acabar evoluindo para um quadro de significativa fibrose hepática, é fundamental que esta condição seja adequadamente rastreada, diagnosticada e tratada. E, considerando que o tratamento envolve mudança de estilo de vida, com controle do peso e dos componentes metabólicos associados, o endocrinologista se torna peça fundamental dentro da equipe multidisciplinar necessária (junto com hepatologistas, nutricionistas e educadores físicos).

Para, então, orientar os médicos clínicos e endocrinologistas, o citado guideline do AACE lista 34 recomendações baseadas em 385 estudos publicados entre 2010 e 2021. A primeira destas recomendações recomenda o rastreio em todos os pacientes com obesidade e/ou síndrome metabólica, com pré-diabetes ou DM2, com esteatose hepática encontrada em exame de imagem e com níveis de aminotransferases persistentemente elevadas (por mais do que 6 meses).

O teste de screening recomendado para a avaliação inicial é o FIB-4, calculado a partir de exames laboratoriais simples e facilmente acessíveis: níveis séricos de ALT e AST e contagem de plaquetas. De acordo com o resultado, o paciente, então, pode ser estratificado em três níveis de risco de fibrose hepática:

  1. Risco baixo (FIB-4 < 1,3): neste caso, o paciente deve manter o acompanhamento com o endocrinologista, com foco na perda de peso e no controle dos fatores de risco cardiovascular.
  2. Risco intermediário (FIB-4 de 1,3 a 2,67): um segundo teste não-invasivo, como a elastografia, deve ser realizado. Sendo reestratificado como alto risco, o paciente deve ser encaminhado ao hepatologista para avaliar a indicação de biópsia hepática (padrão ouro para o diagnóstico de estato-hepatite). O paciente pode, no entanto, ainda persistir numa “zona indeterminada”, o que também indica a referência ao especialista para uma avaliação mais especializada.
  3. Risco alto (FIB-4 > 2,67): o paciente deve ser encaminhado para um hepatologista, com potencial indicação de realizar biópsia hepática.

O guideline também ressalta a importância de afastar, através de uma história clínica detalhada e da realização de alguns testes laboratoriais, outras causas de esteatose hepática: abuso de álcool, hepatite C, lipodistrofias, perda de peso rápida, desnutrição, abetalipoproteinemia, síndrome de Reye, medicações (glicocorticoide, metotrexate, amiodarona, tamoxifeno, ácido valproico e antirretrovirais) e algumas doenças raras, como hepatite auto-imune e deficiência de alfa-1-antitripsina. Para isso, sugere-se a dosagem de: anti-HCV, anti-HBs, anti-HBc, HBsAg, ferritina, alfa-1-antitripsina, anticorpos anti-mitocondrial, anti-nuclear e anti-músculo liso.

Em relação ao manejo clínico, a diretriz enfatiza o papel do endocrinologista no controle metabólico e na redução do peso do paciente, objetivando uma perda de no mínimo 5% do peso corporal (preferencialmente, acima de 10%). Deve-se focar na restrição de gordura saturada e de açúcares simples e dar preferência à dieta do Mediterrâneo, já que esta é a que tem maior número de evidências em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica.

Naqueles indivíduos com IMC acima de 27 Kg/m2 e DHGNA ou esteato-hepatite que necessitam de terapia farmacológica para perda de peso, os autores do guideline dão preferência à semaglutida na dose de 2,4 mg/semana ou à liraglutida na dose de 3 mg/dia (havendo melhor evidência para o primeiro).

Já a cirurgia bariátrica deve ser considerada nos pacientes com DHGNA e IMC a partir de 35 Kg/m2, em especial se houver associação com DM2. Se a cirrose hepática já estiver presente, a indicação cirúrgica deve ser cuidadosamente individualizada caso compensada. No entanto, se descompensada, a cirurgia está contra-indicada.

Nos pacientes com DM2 e esteato-hepatite não alcoólica (especialmente se confirmada por biópsia), recomenda-se o uso de pioglitazona e/ou análogo de GLP-1. As demais medicações, como metformina, inibidores de DPP-IV e insulina, embora não recomendadas especificamente para a esteato-hepatite por falta de evidências, podem ser mantidas para controle da hiperglicemia.

Em indivíduos sem DM2, pode-se considerar o uso de vitamina E no tratamento da esteato-hepatite, mas não há evidências suficientes para esta recomendação em pacientes com DM2.

Em conclusão, o novo guideline traz, para o médico endocrinologista, um guia prático para auxiliar no diagnóstico de uma doença altamente prevalente, ao mesmo tempo em que orienta como devemos individualizar o tratamento do DM2 e da obesidade em indivíduos com DGHNA. Desta forma, podemos estar preparados não apenas para a prevenção de doença cardiovascular, mas também de cirrose hepática nos nossos pacientes metabolicamente doentes.

Autoria

Foto de Erik Trovão

Erik Trovão

Formado em Medicina pela UFCG •Residência em Clínica Médica pelo HBLSUS/PE •Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo HAM-SUS/PE •Titulo de especialista em Endocrinologia e Metabologia pela SBEM •Mestre em neurociências pela UFPE •Preceptor da Residência de Endocrinologia do HC/UFPE

anuncio endocrinopapers

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Endocrinologia