As complicações agudas hiperglicêmicas do diabetes englobam a cetoacidose diabética (CAD) e o estado hiperosmolar (EH). Apesar do desenvolvimento de protocolos para diagnóstico e tratamento, tais condições seguem sendo importantes causas de morbimortalidade, principalmente em pacientes idosos ou quando associadas a outros eventos agudos, como infecções ou eventos cardiovasculares.
Nesse contexto, durante o congresso da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD), foram apresentadas propostas para a atualização das diretrizes conjuntas sobre emergências hiperglicêmicas em adultos com diabetes.
Vamos a alguns destaques:
– Uma das novidades será o destaque à apresentação “híbrida” com características comuns a CAD e ao EH. Estimativas recentes sugerem que até um terço dos casos que se apresentam com EHH têm acidose metabólica resultante de uma CAD concomitante. O não reconhecimento da associação pode levar ao manejo inadequado e desfechos desfavoráveis.
– O ponto de corte para definição de hiperglicemia deve ser reduzido para 200 mg/dL, em substituição aos 250 mg/dL definido anteriormente. De fato, para pessoas com histórico de diabetes, o ponto de corte foi completamente abolido, reforçando a necessidade de considerar o diagnóstico de CAD mesmo com níveis glicêmicos normais. Tal recomendação baseia-se na crescente ocorrência de cetoacidose euglicêmica relacionada ao uso de inibidores do SGLT2.
– Para avaliar a cetose, a nova declaração recomenda fortemente o uso de beta-hidroxibutirato – seja por meio de teste rápido ou nível sérico medido em laboratório – com um ponto de corte ≥ 3,0 mmol/L. Esta é a cetona predominante durante a acidose. Os testes urinários de cetonas medem o acetoacetato, que aumenta paradoxalmente durante a resolução da CAD, decorrente da conversão a partir do beta-hidroxibutirato.
– A acidose metabólica será definida como um pH < 7,3 e/ou uma concentração de bicarbonato < 18 mmol/L (pontos já adotados pela diretriz bresileira). Como novidade, o ânion gap foi removido da definição principal, podendo ser usado em ambientes onde o teste de cetonas não estiver disponível. A CAD continuará sendo classificada em leve, moderada e grave, com recomendações específicas para cada um desses níveis.
– Para o EH, o ponto de corte de glicemia ≥ 600 mg/dL permanecerá o mesmo. O critério para a osmolalidade sérica efetiva foi reduzido para > 300 mOsml/L para compensar o efeito da desidratação. Um critério alternativo será a osmolalidade sérica total > 320 mOsm/L. As mesmas recomendações vistas para a CAD sobre cetonas e acidose também foram incluídas para o EH.
– No quesito tratamento não identificamos grandes alterações, seguindo a recomendação de reposição volêmica com cristalóides, insulinotarapia, reposição de potássio e adição de solução glicosada quando a glicemia cair abaixo de 250 mg/dl. Para CAD euglicêmica, a recomendação é incluir as duas soluções simultaneamente desde o início. O bicarbonato só deve ser considerado se pH < 7,0. Outra “novidade” é a possibilidade de uso de insulina subcutânea na CAD leve (o que também já consta na diretriz brasileira).
– Os critérios para resolução da CAD são: pH venoso ≥ 7,3 ou bicarbonato > 18 mmol/L, cetonas < 0,6 mmol/L e glicose idealmente < 200 mg/dl (com exclusão do ânion gap como critério). Para o EH, os critérios são: osmolalidade sérica < 300 mosm/kg, glicemia < 250 mg/dl, débito urinário > 0,5 ml/kg/hora e melhora do estado cognitivo.
O novo consenso sobre cetoacidose diabética e estado hiperosmolar será endossado em conjunto por diversas entidades: ADA, EASD, AACE, Diabetes Technology Society e pela Joint British Diabetes Societies. O último consenso internacional sobre o assunto foi publicado em 2009. A publicação oficial ainda não tem data definida, mas assim que sair traremos todas as novidades. Fica ligado!
Autoria
Luciano de França Albuquerque
Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco • Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro – BA • Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia • Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa
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