As estatinas são os agentes de escolha como terapia hipolipemiante para a prevenção primária de doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD). Entretanto, 5% a 10% dos pacientes são incapazes de tolerar uma estatina em qualquer dose (intolerância total) ou em dose suficiente para alcançar os alvos específicos de LDLc (intolerância parcial), mais comumente devido a sintomas musculares.
Nos casos de intolerância as opções terapêuticas são bastante limitadas: a ezetimiba produz apenas reduções modestas nos níveis de LDLc, e os inibidores da PCSK9 são indicados para prevenção primária apenas se o paciente for diagnosticado com hipercolesterolemia familiar heterozigótica.
Os dados recém apresentados do estudo CLEAR, demonstrando redução de desfechos cardiovasculares em 13% com o ácido bempedoico foram animadores. Em artigo recém publicado no JAMA, os autores apresentam novas evidências da eficácia e segurança do ácido bempedoico para a prevenção primária de ASCVD com base em uma análise de subgrupo pré-especificada dos resultados CLEAR. Do total de pacientes inscritos no estudo, 4.206 (30%) não tinham ASCVD. Os pacientes que receberam ácido bempedóico tiveram uma redução média de LDLc de 23,2 mg/dL (16,3%). Após um seguimento de 40 meses, foi observada redução de 30% no desfecho composto de morte cardiovascular, infarto do miocárdio não fatal, acidente vascular cerebral não fatal ou revascularização coronária.
O ácido bempedóico inibe a síntese de colesterol intracelular bloqueando a ATP citrato liase, a montante da HMG-CoA redutase que é bloqueada pelas estatinas. Consequentemente, ocorre regulação positiva dos receptores de LDL na superfície dos hepatócitos, com aumento da depuração das partículas de LDL. Como a citrato liase não é expressa em miocitos, o ácido bempedóico está associado a menos sintomas musculares.
Embora o ácido bempedóico tenha sido razoavelmente bem tolerado, seu uso foi associado a uma maior incidência de gota, colelitíase e ruptura de tendão e a um aumento nos níveis séricos de creatinina, ácido úrico e enzimas hepáticas.
Achados de análises de subgrupos como este devem ser interpretados com cautela, pois está mais suscetível a erros estatísticos em graus variados. Diante disso, como podemos incorporar essas informações na prática clínica? O ácido bempedóico se apresenta como uma opção terapêutica eficaz para indivíduos intolerantes a estatinas com risco cardiovascular elevado. Devemos pontuar que estatinas continuam como tratamento de primeira linha, considerando a maior potência na redução do LDLc e a bem estabelecida redução de desfechos associada ao seu uso, incluindo redução na mortalidade por todas as causas.
Autoria
Luciano de França Albuquerque
Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco • Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro – BA • Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia • Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa
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