Monitorização cerebral pós-PCR
Existem experimentos que revelam a redução do fluxo sanguíneo cerebral (CBF) após a hiperemia pós-ROSC, em pacientes com lesão cerebral pós-PCR.
O cuidado neurocrítico (NCC) visa melhorar os resultados para pacientes com lesões neurológicas. Esses cuidados incluem tratamento de lesão cerebral primária e prevenção de lesão cerebral secundária; isso é alcançado por meio de cuidados clínicos padronizados na assistência de certas doenças e neuromonitoramento.
O eletroencefalograma (EEG) é útil na detecção de convulsões e na indicação de anticonvulsivantes. O fluxo sanguíneo cerebral (CBF) ameniza no pós-parada imediato, e uma diminuição maior sem recuperação do CBF sinaliza um resultado ruim. Biomarcadores auxiliam no entendimento de prognóstico de pacientes pós-PCR, dentre outros elementos que ajudam o manejo do clínico durante os cuidados ao enfermo. Confira as diferentes monitorizações na íntegra.
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Atividade cerebral
O eletroencefalograma (EEG) é amplamente utilizado para neuromonitoramento em Hypoxic–ischaemic brain injury (HIBI), contudo seu sinal é complexo e possui diversos padrões anormais. Imediatamente após o retorno da circulação espontânea (ROSC), a amplitude do EEG é baixa e descontínua. Quando há marcadores de lesão cerebral grave, vale ressaltar episódios de supressão (quando a amplitude do EEG é abaixo de 10 μV), ou ainda de burst supression, sendo ocasiões em que a supressão clássica se mantém por mais da metade da gravação, alternada com picos elétricos de voltagem.
Entretanto, avaliar o EEG continua sendo tarefa árdua. Identificar convulsões nas situações chamadas de padrões rítmicos periódicos (RPPs) merece uma atenção especial, visto que ocorrem em 30% dos pacientes ressuscitados. Nesse sentido, saber avaliar neurologicamente o paciente pós-PCR é de fundamental importância na prática clínica, a qual faz uso de diversas ferramentas e interpretações para o manejo correto.
Fluxo sanguíneo cerebral
Existem experimentos que revelam a redução do fluxo sanguíneo cerebral (CBF) após a hiperemia pós-ROSC, em pacientes com lesão cerebral pós-PCR. Nesse sentido, o uso da ultrassonografia com doppler transcraniano fornece uma estimativa não invasiva das velocidades do fluxo sanguíneo cerebral.
Alterações de velocidade de fluxo sanguíneo são presentes após a parada cardíaca, ocorre uma redução no fluxo sanguíneo cerebral, juntamente a uma redução no metabolismo cerebral, que é mais pronunciada em pacientes com lesão cerebral pós-PCR mais grave.
Pressão intracraniana
A lesão cerebral pós-PCR é frequentemente associado a edema neuronal (edema citotóxico) e neuroinflamação grave com quebra da barreira hematoencefálica, levando a edema vasogênico. Eles podem causar um aumento na pressão intracraniana, ou seja, hipertensão intracraniana e uma diminuição na pressão de perfusão cerebral (PPC).
Ainda que muito falado, a monitorização invasiva da PIC não é utilizada rotineiramente em doentes ressuscitados devido à experiência clínica limitada e à utilização concomitante de terapêutica antiplaquetária e/ou anticoagulante.
A ultrassonografia com Doppler transcraniano consegue fornecer uma estimativa alternativa não invasiva da hipertensão intracraniana, com base na medida do aumento da resistência vascular arterial do edema cerebral, fazendo comparativos de cálculos e índices esperados.
A justificativa para monitorar a PIC após a parada cardíaca é tratar a hipertensão intracraniana do edema cerebral potencialmente exacerbando a lesão secundária.
Oxigenação cerebral
A oxigenação cerebral depende não apenas do fornecimento de oxigênio (ou seja, fluxo sanguíneo cerebral e conteúdo de oxigênio arterial), mas também da difusão micro circulatória de oxigênio e do metabolismo cerebral. A ocorrência de hipóxia do tecido cerebral é um mecanismo potencial de lesão de reperfusão. Sendo uma saturação de oxigênio (através de uma sonda intrapariquematosa) no tecido cerebral inferior a 20 mmHg o limiar para identificação de hipóxia tecidual.
Os biomarcadores de lesão cerebral são componentes celulares liberados do tecido cerebral em resposta à lesão. A razão para seu uso na avaliação da lesão cerebral pós-PCR é que sua liberação é proporcional à gravidade do dano celular. Compreender a cinética dos biomarcadores é importante para o seu uso clínico correto. Os níveis sanguíneos de neuro-enolase-específica atingem o pico em 48–72 h após a ROSC, quando sua precisão para avaliar a gravidade é máxima.
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Conclusão
A parada cardíaca causa uma extensa lesão cerebral, na qual possui prognósticos de reversão completa quanto a algum tipo de deficiência, incapacidade ou até mesmo morte. Após a isquemia inicial, a lesão de reperfusão ocorre ao longo do tempo, o que pode levar a instabilidade da membrana neuronal, edema cerebral, hipertensão intracraniana, hipoperfusão cerebral e autorregulação prejudicada. Por conseguinte, faz-se necessário entender todas as formas de monitorização cerebral a fim de evitar qualquer maleficio futuro após PCR.
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