Quais os efeitos da pandemia nos pacientes com nódulos indeterminados de tireoide?
As cirurgias de tratamento de pacientes com câncer sofreram bloqueios durante a pandemia de covid-19 e um estudo avaliou os efeitos disso.
Com a progressão da pandemia de covid-19, desde março de 2020, muito temor e dúvidas se tinham a respeito de como lidar com um tratamento oncológico. Se, por um lado, o paciente com câncer precisa ser operado, pelo outro, havia a pandemia que utilizava grande parte dos recursos hospitalares, assim como aumentava o risco de complicações e óbito dos pacientes operados. A recomendação à época era postergar o procedimento cirúrgico, especialmente se não houvesse certeza de que se tratava de um câncer
Este conceito é especialmente comum nos nódulos indeterminados da tireoide, para os quais os exames pré-operatórios são incapazes de afirmar se se trata de um tumor maligno ou benigno, usualmente classificado como Bethesda III ou IV.
Métodos
Estudo retrospectivo, que objetivou analisar os efeitos da pandemia, no retardo do tratamento operatório nos pacientes com nódulos indeterminados de tireoide, fazendo parte de um estudo maior denominado THYCOVID. Foram solicitados a 1544 centros de cirurgia da tiroide em 115 países, listas das suas tireoidectomias consecutivas de 1 janeiro de 2019 a 31 dezembro de 2021. Sem nenhum tipo de limitação ou idade, sendo este o único critério de inclusão.
Foram divididos os pacientes em três grupos:
- Grupo 1 – fase pré pandemia(janeiro 2019 a fevereiro de 2020);
- Grupo 2 – pandemia (março 2020 a maio 2021);
- Grupo 3 – regressão da pandemia (junho 2021 a dezembro 2021).
Apesar de alguns centros utilizarem classificações distintas, para o objetivo deste estudo, elas foram agrupadas segunda a classificação de Bethesda e todos aqueles com classificação III ou IV foram registrados como indeterminados e incluídos para a análise deste trabalho. O desfecho primário analisado foi o número de cirurgias realizadas para nódulos indeterminados e os cânceres de tireoide maiores que 10 mm, assim como a sua invasão local e a distância.
Resultados
De todos os centros convidados para participar do estudo, 246 aceitaram. No entanto, apenas 157 possuíam os registros necessários para inclusão completa no estudo, representando 49 países. Ao total, foram listadas 87.467 cirurgias de tireoide entre os centros participantes e 22.947 (26,3%) realizadas para nódulos indeterminados de tireoide.
Total de cirurgias | Nódulos indeterminados | |
Grupo 1 | 37.037 | 9.448 (25,5%) |
Grupo 2 | 31.595 | 8.454 (26,8%) |
Grupo 3 | 18.835 | 5.072(26,9) |
Total | 87.467 | 22.974 (26,3%) |
Posteriormente foi determinada a média mensal de cirurgia por centro, a fim de uniformizar o volume cirúrgico. Assim, para o grupo 1 ocorreram duas cirurgias por mês por centro; no grupo 2, 1,4 cirurgias por mês por centro e, no grupo 3, 2,3 cirurgias por mês por centro. Na análise estatística esta diferença registra um valor p<0,0001. Ao analisar os nódulos, não houve diferença entre os grupos na classificação de Bethesda. A taxa de metástase ganglionar também foi mais alta nos grupos 2 e 3 (11,7% e 12,5% respectivamente), quando comparada ao grupo 1 (9,3%) e esta diferença apresentou significado estatístico (p<0,0001).
Considerações
Conforme dados demonstrados por outros estudos, a fase mais agressiva da pandemia se refletiu numa diminuição de cirurgias realizadas para nódulos indeterminados da tireoide. Neste estudo, os nódulos operados na fase de regressão da pandemia (grupo 3) se mostraram mais agressivos, o que pode sugerir que retardar o tratamento dos nódulos da tireoide aumenta a taxa de invasão local e metástase.
Uma das teorias que podem representar um aumento da agressividade do do grupo 3, é que os pacientes com estigmas de malignidade no nódulo de tireoide, sem uma determinação exata, estariam mais preocupados com a sua condição e com isto, assim que houve uma diminuição da pandemia, apressaram para a realização da tireoidectomia. Outra teoria seria a progressão natural da doença com este atraso da cirurgia. No entanto, muitos argumentam que as neoplasias de tireoide (a exceção do anaplásico) possuem um crescimento lento, e mesmo um atraso de 6 a 12 meses não justificariam um aumento significativo da agressividade tumoral. Uma terceira consideração, seria que a inflamação causada por uma infecção pelo SARS-CoV-2, pode provocar uma resposta inflamatória, com liberação de citocinas, que em tese podem justificar um aumento da taxa de progressão tumoral.
Conclusão
Em conclusão, este estudo demonstrou um aumento da taxa de agressividade dos tumores tireoidianos após a fase mais agressiva da pandemia e existem alguns fatores que podem explicar essa teoria: a sugestão é que a cirurgia não deve ser adiada em casos de nódulos indeterminados de tireoide, cuja suspeição de malignidade é maior.
Mensagem prática
O acompanhamento dos nódulos de tiroide exige uma equipe multidisciplinar que, em conjunto, deve determinar a indicação cirúrgica. Aguardar nódulos suspeitos até esses apresentarem características claras de malignidade não parece ser uma conduta adequada.
<p< span=””>>Este artigo foi produzido em parceria com a Elsevier, utilizando os conteúdos baseados em evidências disponíveis na plataforma ClinicalKey. Clique aqui para saber mais.
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