A descrição e popularização da técnica como executamos atualmente, por meio de cânulas, ocorreu na década de 80 por Illouz. Tradicionalmente, a aspiração é realizada nas camadas profundas de gordura. No entanto, com objetivo de otimizar definição anatômica e retração cutânea, tem-se difundido o conceito de lipoaspiração de alta definição (LAD).
Popularizada por Hoyos a partir de 2002, essa técnica combina lipoaspiração de camadas profundas e superficiais objetivando realce muscular e consequentemente um perfil mais atlético. Embora essa abordagem tenha adesão crescente na última década, evidências sobre sua eficácia e segurança ainda são escassas.
Com o intuito de esclarecer aspectos fundamentais sobre os avanços da técnica, assim como resultados e potenciais complicações, Hoyos et al. publicou recentemente uma análise da maior casuística de pacientes submetidos à LAD (N = 5052).
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Cirurgias analisadas
Foram avaliadas, retrospectivamente, cirurgias realizadas entre 2002 e 2019, tendo sido estabelecido um protocolo de segurança para seleção de pacientes e manejo perioperatório. Pacientes sem comorbidades e eutróficos eram idealmente candidatos à LAD, sendo contraindicados:
- IMC > 34kg/m2;
- Flacidez severa;
- Comorbidades cardiovasculares proibitivas;
- Tabagismo ativo (>10 cigarros/dia);
- Doenças do tecido conectivo ou transtorno dismórfico.
A avaliação pré-operatória consistia em exames laboratoriais, estratificação de risco (ASA) e exames de imagem caso necessário. A estratificação de risco para trombose venosa profunda foi realizada por meio de escore de caprini, indicando-se utilização de compressão pneumática e anticoagulação com enoxaparina 0,5 mg/kg/dia subcutânea por 7 dias após a cirurgia a depender do risco mensurado.
Prevenção de hipotermia com infusão de fluidos aquecidos e controle de sangramento com infusão de solução tumescente com adrenalina e ácido tranexâmico (1g EV 30 minutos antes da abordagem) também compuseram medidas perioperatórias. Utilização de drenos com retirada quando débito < 50ml/dia, além de sessões de drenagem linfática, ultrassom e reavaliações periódicas fizeram parte de cuidados pós cirúrgicos.
Em relação ao perfil demográfico, 85% (N= 4300) eram do sexo feminino com IMC médio de 23 (eutrófico). Para análise dos resultados os pacientes foram estratificados em três subgrupos: lipoaspiração assistida por sucção (SAL), lipoaspiração assistida por Vibration Amplification of Sound Energy at Resonance (Vaser) e lipoplastia de definição dinâmica (Lipo 4D).
No primeiro grupo (2002-2007, N= 923) foi utilizada sucção contínua para realização de LAD, sem emulsificação prévia. No segundo grupo (2006-2010, N=1272) foi associado um sistema de ultrassom cirúrgico (Vaser) que promove emulsificação da gordura, otimizando o processo de lipoaspiração.
No último período (2011-2019, N=2857) foi aplicado novo conceito de segmentação corporal e análise da dinâmica muscular para planejamento da lipoaspiração, além da associação de tecnologias para emulsificar gordura e otimizar retração cutânea como BodyTite, utiliza como energia a radiofrequência, e Renuvion, age por meio de jato de plasma.
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Comparativamente, observou-se que a evolução das técnicas refletiu em redução das complicações mais recorrentes: seroma (18%, 7% e 2,1% para SAL, VASER e Lipo 4D, respectivamente), hematoma (5,3%, 3% e 0,9%, respectivamente) e anemia pós-operatória (2,7%, 1,6% e 1%, respectivamente).
Já a incidência de complicações mais graves como necrose cutânea foi baixa (0,6%) com progressiva tendência à redução ao decorrer do período avaliado. O volume médio lipoaspirado aumentou progressivamente (2.000, 4.300 e 6.400 cc, respectivamente), refletindo evolução da efetividade do procedimento.
A hemoglobina média pré e pós-operatória foi de 15 e 14 mg/dL para 9,3 e 10,7 mg/dL para SAL e Lipo 4D, respectivamente. Apenas 7 pacientes foram hemotransfundidos, sendo apenas 2 desses submetidos exclusivamente à Lipo 4D (risco absoluto de 0,03%).
LAD foi associada a outros procedimentos em 4.139 pacientes, sendo a lipoenxertia glútea (81%) e mastopexia (45%) as cirurgias mais associadas. A duração média da lipoaspiração foi progressivamente maior (120, 169 e 181 minutos, respectivamente), fato explicado pelo maior refinamento e curva de aprendizado da Lipo 4D.
O follow-up médio pós-operatório foi de 2 anos, com pelo menos ¾ dos pacientes com reportado grau de satisfação acima da expectativa.
O que levar para casa
O presente estudo demonstrou que a realização de LAD por equipe cirúrgica qualificada e guiada por princípios que priorizem segurança do paciente pode ser uma ferramenta potencialmente efetiva para otimização do contorno corporal, com reduzido risco de complicações e elevado grau de satisfação do paciente.
Autoria

Nathália Ribeiro Pinho de Sousa
Residente em Cirurgia Geral pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal da Fronteira Sul ⦁ Especialização Multiprofissional em Atenção Básica em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina ⦁ Médica pela Universidade Federal do Ceará ⦁ Exerceu cargo de Presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular ⦁ Foi editora Júnior do Blog do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery ⦁ Desempenhou função de vice-presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular e de presidente da Liga de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal do Ceará ⦁ Realizou estágio em Cirurgia Cardíaca na Cleveland Clinic (EUA), Mount Sinai Hospital (EUA), The Heart Hospital at Baylor Plano (EUA), Hôpital Européen Georges Pompidou (França), Herzzentrum Leipzig (Alemanha), Papworth Hospital (Inglaterra), Harefield Hospital (Inglaterra), St. Thomas Hospital (Inglaterra), Manchester Royal Infirmary (Inglaterra), Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (Brasil) e Hospital São Raimundo (Brasil) ⦁ Realizou estágio de pesquisa no William Harvey Heart Centre (Inglaterra) ⦁ Foi bolsista de Graduação Sanduíche pelo Programa Ciência sem Fronteiras na University of Roehampton, Londres ⦁ Foi bolsista de iniciação científica CNPq, UFC e da FUNCAP do Laboratório de Fisiologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA).
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