Eficácia do transplante de microbiota fecal no tratamento da síndrome do intestino irritável
Foram publicados resultados de um estudo de seguimento de três anos de pacientes com SII submetidos ao transplante de microbiota fecal.
O transplante de microbiota fecal (TMF) é um tratamento promissor para a síndrome do intestino irritável (SII). Até o momento, foram realizados sete ensaios clínicos randomizados, os quais apresentaram resultados conflitantes, provavelmente devido a utilização de protocolos diferentes de TMF. A eficácia e segurança de longo prazo do TMF na SII são desconhecidos já que esses estudos acompanharam os pacientes até um ano após o procedimento. El-Salhy e colaboradores publicaram, recentemente, os resultados de seguimento de três anos de pacientes com SII submetidos a TMF.
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Metodologia
Este estudo incluiu 125 pacientes (104 mulheres e 21 homens), randomizados da seguinte forma:
- 38 para grupo placebo – os quais receberam 30g de suas próprias fezes;
- 42 para grupo tratamento com 30 g de fezes de doador;
- 45 para grupo tratamento com 60 g de fezes de doador.
Os critérios de inclusão foram ter entre 18 e 85 anos e ter uma pontuação total no IBS Severity Scoring System (IBS-SSS) igual ou maior do que 175. Os critérios de exclusão foram: presença de doença sistêmica; imunodeficiência; uso de medicação imunomoduladora, como metotrexato, azatioprina, ciclosporina, antagonistas de transplante de microbiota fecal alfa e corticosteroides; gravidez ou planejamento da gravidez; lactação; distúrbios psiquiátricos graves; abuso de álcool ou drogas; uso de probióticos, antibióticos ou medicamentos para SII dentro de oito semanas antes do início do estudo.
As fezes doadas foram provenientes de um único indivíduo, homem, saudável, de 36 anos, com índice de massa corporal normal, nascido de parto vaginal, amamentado, não fumante, tratado poucas vezes com antibióticos, praticante de atividade física regular, aderente a dieta rica em proteínas, fibras, minerais e vitaminas, e portador de uma alta diversidade microbiana intestinal (normobiose). As fezes foram administradas no duodeno distal através de endoscopia.
Os pacientes forneceram uma amostra fecal e completaram cnco questionários (IBS-SSS, Birmingham IBS Symptom Questionnaire, Fatigue Assessment Scale, IBS-Quality of Life, Short-Form Nepean Dyspepsia Index) no início do estudo e após dois e três anos do TMF. Foram considerados respondedores aqueles pacientes com redução de mais de 50 pontos no IBS-SSS e remissão completa um IBS-SSS igual ou menor que 75.
Bactérias fecais e índice de disbiose foram analisados após amplificação de DNA por reação em cadeia de polimerase dos genes 16S rRNA, cobrindo as regiões V3 a V9. A composição de bactérias fecais foi analisada usando o GA-map Dysbiosis Test. O índice de disbiose foi medido em escala de pontos de 1 (normal) a 5 (disbiose grave), onde valores entre 1 e 2 indicam normobiose e, 3 a 5, disbiose.
O desfecho primário foi redução no escore IBS-SSS de 50 pontos três meses após o transplante de microbiota fecal. Os desfechos secundários foram alteração no índice de disbiose e no perfil de bactérias intestinais.
Resultados
Três anos após o TMF, 11 pacientes desistiram: um no grupo placebo, cinco no grupo de 30 g e cinco no grupo de 60 g. As taxas de resposta foram de 26,3%, 69,1% e 77,8% nos grupos placebo, 30 g e 60 g, respectivamente, em dois anos após o TMF, e 27,0%, 64,9% e 71,8%, respectivamente, em três anos após a transplante de microbiota fecal. As taxas de resposta foram significativamente maiores nos grupos de 30 g e 60 g do que no grupo placebo. Os pacientes nos grupos de 30 g e 60 g tiveram significativamente menos sintomas de SII e fadiga, e uma maior qualidade de vida tanto dois e três anos após o TMF. A taxa de remissão foi significativamente maior nos grupos TMF após dois anos, em comparação ao placebo, o que não foi sustentado no terceiro ano após o procedimento.
O índice de disbiose diminuiu nos grupos de tratamento ativo dois e três anos após o TMF e se correlacionou positivamente com o IBS-SSS total e escore de fadiga. As mulheres apresentaram taxas de resposta mais altas do que os homens em dois e três anos após o TMF, sem diferença na taxa de remissão completa. As taxas de resposta em pacientes com SII-diarreia e SII-mista foram significativamente maiores do que naqueles com SII-constipação dois anos após o transplante de microbiota fecal, mas não essa diferença não foi observada após três anos. Houve uma mudança no perfil bacteriano em todos os grupos em dois e três anos.
Dentre as bactérias cujo sinal de fluorescência mudou nos grupos de 30 g e 60 g, mas não no grupo placebo, nove foram significativamente correlacionados com os escores totais IBS-SSS. Seis bactérias cujos sinais de fluorescência aumentaram após TMF foram correlacionadas negativamente com os escores totais de IBS-SSS: Alistipes, Bacteroides spp, Prevotella spp, Parabacteroides johnsonii, Firmicutes, Eubacterium biforme e Faecalibacterium prausnitzii. As três bactérias restantes, cujos sinais de fluorescência diminuíram após o TMF, foram correlacionadas positivamente com os escores totais de IBS-SSS: Coprobacillus cateniformis, Streptococcus salivarius spp thermophilus e Enterobacteriaceae. Dez pacientes foram retransplantados, com melhora dos sintomas de SII em 8 deles.
Dor abdominal intermitente leve, diarreia e constipação foram relatados nos primeiros dois dias após o transplante de microbiota fecal, mas nenhum outro evento adverso foi relatado durante o período de acompanhamento.
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Mensagens práticas
O TMF resultou em altas taxas de resposta e efeitos de longa duração em pacientes com SII. Os eventos adversos foram autolimitados e de curto prazo. No entanto, deve-se ressaltar que os resultados não são generalizáveis para outros protocolos de transplante de microbiota fecal.
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