Colangiocarcinoma intra-hepático (CCI) é o segundo mais comum tumor primário do fígado, sendo originado de células epiteliais dos ductos biliares. Muitos pacientes apresentam lesões multifocais ao diagnóstico, o que restringe o arsenal terapêutico à cirurgia em casos selecionados de doença multifocal limitada ou quimioterapia paliativa na maioria dos casos.
Buscando abordagens terapêuticas que possibilitem melhor índice de sobrevida tem-se avaliado a aplicabilidade da quimioterapia de infusão arterial hepática (HAIC) nesse perfil de paciente. Esse tratamento consiste na infusão de altas doses de quimioterápico diretamente na circulação arterial hepática, o que otimiza em até 200 vezes a concentração de fármaco que chega ao tumor, além de reduzir os efeitos colaterais da administração sistêmica.
O tratamento de colangiocarcinoma intra-hepático multifocal (CCIM) com HAIC com floxuridina tem obtido melhores taxas de sobrevida comparativamente à quimioterapia clássica (25 meses vs 16 meses, respectivamente). Assim, vislumbrando HAIC com floxuridina como uma ferramenta em potencial para tratamento desse perfil de paciente, estudo recente multicêntrico comparou essa terapia à abordagem cirúrgica.
Análise recente
Foram avaliados 319 pacientes com CCIM, sendo 141 submetidos à HAIC (média de 62 anos e 56% do sexo feminino) e 178 à ressecção cirúrgica (média de 50 anos e 51% do sexo masculino). O grupo CCIM apresentou maior porcentagem de doença bilobar (88% vs 34,3%), maior dimensão tumoral (média de 8,4 cm vs 7 cm) e maior proporção de doença multilobar (66,7% vs 24,2%). Mortalidade em 30 dias do procedimento e sobrevida foram melhores no grupo CCIM quando comparado à abordagem cirúrgica (0,8% vs 6,2% e 20,3 vs 18,9 meses, respectivamente). Sobrevida em 5 anos em pacientes com 2 ou 3 lesões e com 4 ou mais lesões foi comparável em ambos os grupos ( 23,7% vs 25,7% e 5% vs 6,8%, respectivamente). A razão de risco (HR) após ajuste de tamanho, quantidade de lesões e acometimento linfonodal para HAIC vs ressecção foi de 0,75 (p = 0,07).
Em conclusão, o presente estudo mostrou que, em pacientes com CCIM, abordagens alternativas como CCI com fluxoridina podem ser usadas como ferramentas com potencial de sobrevida comparável à ressecção cirúrgica. Esse método também tem mostrado vantagem quando comparado à quimioterapia convencional e outros métodos percutâneos, como quimioembolização transarterial e radiofrequência ablativa, já que vem apresentando melhores taxa de sobrevida e não é limitado a fatores regionais como número e localização de lesões.
O que levar para casa
A busca de métodos alternativos menos invasivos e que possibilitem melhora da sobrevida em pacientes com câncer hepático avançado, a exemplo do colangiocarcinoma intra-hepático multifocal (CCIM), deve ser prioritária nesse perfil de paciente. Considerar ferramentas menos mórbidas e que demonstram sobrevida semelhante à abordagem cirúrgica pode ser um caminho para tratamento. Essa decisão deve ser individualizada para o perfil do paciente, considerando risco cirúrgico e benefício oncológico a médio e longo prazo.
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Autoria

Nathália Ribeiro Pinho de Sousa
Residente em Cirurgia Geral pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal da Fronteira Sul ⦁ Especialização Multiprofissional em Atenção Básica em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina ⦁ Médica pela Universidade Federal do Ceará ⦁ Exerceu cargo de Presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular ⦁ Foi editora Júnior do Blog do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery ⦁ Desempenhou função de vice-presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular e de presidente da Liga de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal do Ceará ⦁ Realizou estágio em Cirurgia Cardíaca na Cleveland Clinic (EUA), Mount Sinai Hospital (EUA), The Heart Hospital at Baylor Plano (EUA), Hôpital Européen Georges Pompidou (França), Herzzentrum Leipzig (Alemanha), Papworth Hospital (Inglaterra), Harefield Hospital (Inglaterra), St. Thomas Hospital (Inglaterra), Manchester Royal Infirmary (Inglaterra), Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (Brasil) e Hospital São Raimundo (Brasil) ⦁ Realizou estágio de pesquisa no William Harvey Heart Centre (Inglaterra) ⦁ Foi bolsista de Graduação Sanduíche pelo Programa Ciência sem Fronteiras na University of Roehampton, Londres ⦁ Foi bolsista de iniciação científica CNPq, UFC e da FUNCAP do Laboratório de Fisiologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA).
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