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Cirurgia13 maio 2021

Carreira cirúrgica com olhar de cirurgiões aposentados: o que pode ser diferente?

Um estudo com cirurgiões aposentados questionou o que eles teriam feito diferente em suas vidas e carreiras como cirurgiões. Saiba mais.

“Queres ser médico, meu filho? Essa aspiração é digna de uma alma generosa, de um espírito ávido pela ciência. Mas, pensaste no que se transformará a sua vida?” 

Da mitologia romana, Esculápio já advertia sobre as demandas advindas da formação médica. Não tão distante de nossa realidade, o texto romano se faz atual, trazendo questionamentos sobre o estilo de vida e as escolhas que o médico precisa fazer durante sua carreira. Dentre as especialidades médicas, a cirurgia se destaca como um dos segmentos que impõe elevada dedicação durante toda a carreira, visto que a formação de um cirurgião permeia pelo embasamento teórico, habilidade manual e boa relação médico-paciente. Considerando tudo o que é solicitado ao cirurgião, muitas vezes se torna uma tarefa árdua construir uma carreira bem sucedida e equilibrada.

A carreira cirúrgica sob o olhar de cirurgiões aposentados

O estudo com cirurgiões aposentados

Foi partindo dessa reflexão que se realizou um robusto estudo norte-americano com cirurgiões aposentados membros do colégio americano de cirurgiões para analisar o que eles teriam feito diferente em suas vidas e carreiras como cirurgiões. 

O total de 5.283 questionários foram enviados, tendo resposta válida de 2.295 cirurgiões aposentados (taxa de resposta de 43,4%). A idade média do grupo foi 79 anos e a idade média da aposentadoria foi 63,9 anos, sendo 15,2 anos o intervalo médio desde a aposentadoria. A maioria dos participantes eram do sexo masculino (N=2276 / 99,2%) e as subespecialidades eram principalmente cirurgia geral (N = 1382 / 60,2%), cirurgia vascular (N = 416 / 18,1%), cirurgia cardiotorácica (N = 330 / 14,4%) e coloproctologia (N = 167 / 7,3%). 

Em relação aos resultados, 93,8% dos participantes responderam que teriam feito algo diferente em sua carreira de cirurgião. Dentre as atitudes diferentes reportadas, as mais comuns foram ter dedicado mais tempo à família e ao autocuidado (N= 295 / 23,9%), ter optado por um ambiente laboral menos estressante (N = 236 / 19,2%, tendo preferência 3,8 vezes maior por ambientes acadêmicos comparativamente à prática privada), ter escolhido uma subespecialidade com menos sobrecarga e melhor remuneração (N = 156 / 12,7%, sendo cirurgia plástica, ortopedia e cirurgia pediátrica as especialidades preferidas). 

Apenas 6% (N = 74) relataram que teriam escolhido uma carreira não médica e 1,1% (n = 14) disseram que teriam construído maior patrimônio monetário. 

Em resumo, o estudo indicou que mais da metade dos cirurgiões avaliados reconheceram a importância de manter um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional, além de desejar um ambiente laboral menos sobrecarregado. 

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Para levar para casa 

A carreira de um cirurgião demanda uma longa caminhada alicerçada nos pilares: conhecimento técnico, habilidade manual, boa relação interpessoal e um toque de aptidão, consistindo em uma formação com elevada demanda que, por vezes, sobrecarrega o profissional, levando a frustrações e arrependimentos ao longo da carreira. Por isso, uma reflexão crítica objetivando mudanças que priorizem o equilíbrio entre carreira bem sucedida e vida pessoal saudável se faz necessária para que possamos elevar profissionais de sucesso a seres humanos realizados.

Coautor:

  • Jorge Roberto Marcante Carlotto. Mestre e Doutor pela Universidade Federal de São Paulo. Cirurgião Geral e de Cirurgia do Aparelho Digestivo pela Escola de Medicina da Universidade Federal de São Paulo.

Referências bibliográficas:

Stolarski A, Moseley J, et al. Retired Surgeons’ Reflections on Their Careers. JAMA Surgery. 2020;155(4):359. doi: 10.1001/jamasurg.2019.5476

Autoria

Foto de Nathália Ribeiro Pinho de Sousa

Nathália Ribeiro Pinho de Sousa

Residente em Cirurgia Geral pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal da Fronteira Sul ⦁ Especialização Multiprofissional em Atenção Básica em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina ⦁ Médica pela Universidade Federal do Ceará ⦁ Exerceu cargo de Presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular ⦁ Foi editora Júnior do Blog do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery ⦁ Desempenhou função de vice-presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular e de presidente da Liga de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal do Ceará ⦁ Realizou estágio em Cirurgia Cardíaca na Cleveland Clinic (EUA), Mount Sinai Hospital (EUA), The Heart Hospital at Baylor Plano (EUA), Hôpital Européen Georges Pompidou (França), Herzzentrum Leipzig (Alemanha), Papworth Hospital (Inglaterra), Harefield Hospital (Inglaterra), St. Thomas Hospital (Inglaterra), Manchester Royal Infirmary (Inglaterra), Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (Brasil) e Hospital São Raimundo (Brasil) ⦁ Realizou estágio de pesquisa no William Harvey Heart Centre (Inglaterra) ⦁ Foi bolsista de Graduação Sanduíche pelo Programa Ciência sem Fronteiras na University of Roehampton, Londres ⦁ Foi bolsista de iniciação científica CNPq, UFC e da FUNCAP do Laboratório de Fisiologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA).

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