Prova de Residência Médica: Terapia Intensiva - Sepse
Seguindo a série de posts sobre os principais temas em terapia intensiva que devemos focar para as provas de residência, vamos relembrar os pontos chave sobre a Sepse.
Conceito geral
Sepse é a disfunção de órgãos secundária a uma resposta desregulada a uma infecção e que pode trazer risco de vida.
Ela é causada por uma resposta complexa após o reconhecimento de organismos invasores ou suas toxinas por células imunes, o que causa a ativação de uma cascata inflamatória com liberação de citocinas como TNF-a e IL-1 e substâncias vasodilatadoras como o óxido nítrico e prostaglandinas.
Além disso, outro efeito da reação inflamatória é a expressão de moléculas de adesão no endotélio e nas células, o que, ativando leucócitos, leva ao aumento da permeabilidade vascular e edema. Para completar, os mediadores pró inflamatórios causam um estado pró coagulante que pode causar coagulação intravascular disseminada e desordens microcirculatórias.
Saber essa fisiopatologia é importante para entender que a disfunção orgânica pode ocorrer no local onde se instalou um processo infeccioso ou em qualquer outro órgão à distância, uma vez que a resposta imune ocorre a nível da microcirculação.
Pontos de atenção a serem estudados
Diagnóstico
O diagnóstico de sepse é essencialmente através do somatório de sinais e sintomas com resultados laboratoriais não específicos mas que indicam a suspeita de sepse.
Os marcadores laboratoriais mais comumente alterados em quadros infecciosos são: elevação de contagem de glóbulos brancos, proteína C reativa e procalcitonina. O diagnóstico microbiológico confirma a suspeita através da identificação do patógeno e exames de imagem podem mostrar as áreas comprometidas e até mesmo complicações relacionadas (RX de tórax, tomografia computadorizada e etc)
Escore SOFA
Se refere ao grau de disfunção orgânica relacionada a sepse:
SOFA | 0 | 1 | 2 | 3 |
4 |
PaO2 x FiO2 mmH2O | >400 | £ 400 | £ 300 | £ 200 com O2 suplementar | £ 100 com O2 suplementar |
Plaquetas x 10/mm | >150 | £ 150 | £ 100 | £ 50 | £ 20 |
Bilirrubinas mg/dl | <1.2 | 1.2-1.9 | 2.0-5.9 | 6.0-11.9 | > 12.0 |
Glasgow score | 15 | 13-14 | 10-12 | 6-9 | <6 |
Hipotensão | Sem hipotensão | PAM<70mmHg | Dopamina £5 ou dobutamine ( qualquer dose)* | Dopamina > 5 ou epinefrina £ 0.1 ou noradrenalina £ 0.1* | Dopamina> 15 ou epinefrina > 0.1 ou noradrenalina > 0.1* |
Creatinina ou Débito urinário mg/dl | <1,2 |
PAM: pressão arterial média * Doses em mg/kg/min
Sinais e sintomas
Os sinais e sintomas da sepse são, inicialmente, os comuns para um processo infeccioso agudo: febre, leucocitose, taquicardia, taquipneia. Vale lembrar que a febre pode estar ausente em muitos pacientes, 10-15% cursam com hipotermia e esse achado está associado a maiores taxas de mortalidade assim como a leucopenia também está relacionada a piores prognósticos.
A hiperlactatemia é um marcador presente na maioria dos tipos de choque uma vez que representa a hipoperfusão tecidual. Quando associamos isso tudo a baixa resistência vascular periférica pela vasodilatação, aumento do débito cardíaco relacionado à taquicardia e hipotensão arterial estamos diante do choque séptico, a apresentação mais grave desta patologia.
Tratamento
O tratamento da sepse é baseado na identificação precoce e do tratamento rápido, na chamada golden hour – na primeira hora após a suspeita
O base da abordagem possui 3 linhas: o tratamento da infecção, a estabilização hemodinâmica e o suporte artificial às disfunções orgânicas.
Lembre-se:
- Pacientes com choque séptico ou hipoperfusão devem receber pelo menos 30 mL/kg de cristaloide em até 3 horas
- O tempo de enchimento capilar é uma forma simples de guiar a ressuscitação, juntamente com outros marcadores perfusão.
- Coleta de cultura (incluindo hemocultura) de acordo com suspeição clinica antes da administração de antibiótico (se não atrasar por mais de 45 min)
- Para pacientes com choque séptico ou alta possibilidade de sepse, é recomendado administrar antibióticos imediatamente, idealmente dentro de uma hora de reconhecimento.
- Procalcitonina não deve ser utilizada para a decisão de quando iniciar antibióticos, mas para guiar a duração da terapia.
Para rever o uso de drogas vasoativas no choque, recentemente publicamos um guia bastante completo. É só clicar no conteúdo Guia para o uso de vasopressores e inotrópicos em pacientes em choque
Principais artigos sobre o tema
River et al – 2001 (Terapia guiada por metas)
ProCESS e ARISE – 2014 (Terapia guiada por metas)
ANDROMEDA – SHOCK – 2019 (Terapia guiada por metas)
Sepse no dia a dia do médico
Sepse e choque séptico são grandes problemas de saúde pública, impactando milhões de pessoas ao redor do mundo e matando até de um terço dos afetados.
A identificação precoce e o manejo adequado nas horas iniciais da sepse podem melhorar esse desfecho.
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